Em Burlington, uma pequena cidade vizinha a Toronto, Canadá, estou hospedado na casa de um grande amigo. Era cerca de 13h30, acabávamos de almoçar e conversávamos animadamente, inclusive sobre os serviços de coleta seletiva local. Por coincidência, passava o caminhão de lixo, o que pensava ser um serviço diário. “Ele agora só volta semana que vem”, disse Gabriel, meu anfitrião. Percebi que aquela seria a única chance de ver o caminhão operando e corri em busca da câmera.
Aqui o lixo doméstico é dividido entre orgânico, reciclável e comum. No Brasil, Gabriel morava em Poços de Calda (MG), onde já tinha o hábito de separar os recicláveis em um container separado. Embora em Poços não houvesse coleta seletiva, os próprios lixeiros separavam e vendiam os recicláveis. Meu amigo fazia a sua parte para ajudar.
Aqui, algo semelhante acontece. Mas em vez do improviso interessado por parte dos garis locais, existe uma máquina que separa automaticamente os recicláveis. Dessa forma, não é mais preciso colocar papel, metal, plástico e vidro em containers distintos.
A outra diferença é que todo lixo orgânico é recolhido em sacolas biodegradáveis e vira adubo. Por fim, desde 2010, várias cidades, inclusive Toronto, têm programas em que os caminhões de lixo usam gás produzido pelos próprios resíduos que retiram. Bacana.
Encontrei a câmera. Aqui, estamos em pleno inverno com temperaturas quase sempre abaixo de zero. Mas a boa calefação me permitia, dentro da casa, estar vestido apenas com uma camisa de flanela, bermuda e… havaianas.
Com essa indumentária, abri a porta e, num frio de 4 graus abaixo de zero procurei o caminhão. Ele já estava duas casas à frente. Dada a distância e a temperatura, saí trotando atrás dele, câmera na mão, vendo ao longe a movimentação do gari. Pensei: — esse cara vai achar que sou louco.
Ao me aproximar, a primeira providência foi explicar que era brasileiro, que escrevia sobre temas ambientais e estava interessado na tecnologia de recolhimento do lixo em Toronto. Brad, o gari do dia, foi tão simpático quanto sincero. Olhou-me de cima a baixo, ou melhor, de cima até os pés de havaianas, e disse confirmando minha previsão: — Eu pensei que você era louco.
Contive o riso. Equívoco desfeito, ele me mostrou como operava. Na lateral do caminhão Brad despeja o conteúdo das caixas deixadas pelos moradores. Há um lugar para o lixo orgânico e outro para os recicláveis, os quais só serão separados pela máquina do depósito. Quando a lateral fixa cheia, ele aciona um motor que faz com que ela suba, basculhe e despeje todo o lixo na caçamba principal do caminhão. Para movê-lo até a próxima casa, ele não precisa sentar no lugar do motorista (Brad também dirige o caminhão). De pé em uma das portas, ele tem controles que permitem mover o veículo á frente. Prático para quem faz tudo sozinho.
Fiz um pequeno filme (acima) do caminhão basculhando. Perfeito o sistema não é. Caíram umas latinhas… Poderia ter filmado mais alguns segundos, porém comecei a congelar. Agradeci a aula e me despedi de Brad tão abruptamente quanto surgi. De novo, voltei trotando para casa.
Nem é preciso dizer que a história rendeu boas gargalhadas.
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