Saia pela casa à procura de eletrônicos ou baterias que não funcionam. O resultado será um monte de quinquilharias que ocupam espaço e com as quais você não sabe o que fazer, certo? Fiz essa busca nas últimas semanas e não deu outra: uma bateria velha de notebook, outra de telefone sem fio e dois celulares da época em que não existia chip. Depois de anos parados dentro dos armários, chegou o momento de destiná-los como manda o código ambiental: direto para a reciclagem.
Porém, será que essa é uma tarefa fácil? Para descobrir, peguei os aparelhos e saí à luta. Comecei com a bateria do notebook. Liguei para o SAC da empresa e pediram para preencher um formulário no site. Em menos de uma semana a bateria foi retirada na minha casa, por um convênio entre a empresa e os Correios. Depois, foi a vez do telefone sem fio e dos celulares. Liguei para o SAC da marca do telefone e perguntei onde descartar a bateria: deram o endereço de uma assistência autorizada e não é que receberam mesmo? No caso dos celulares, eu sabia onde encontrar uma loja da marca e fui direto lá. O atendente recolheu os aparelhos e colocou-os na caixa destinada à reciclagem.
Incrível: foi fácil! Os desfechos foram ótimos e rápidos – bem diferente do que eu esperava, confesso! Afinal, em fevereiro, o Brasil levou um puxão de orelha da Organização das Nações Unidas (ONU) para tomar medidas contra o crescimento do e-lixo, que tem ocorrido em larga escala nos países emergentes. De acordo com o relatório divulgado pela organização por meio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), mais de 40 milhões de toneladas de eletrônicos se acumularam nos últimos anos – e esse número deve crescer se nada for feito e se a população não colaborar, devolvendo seus aparelhos a quem possa destiná-los corretamente.
Lixo eletrônico são os resíduos do descarte de equipamentos como computadores, TVs, celulares, máquinas fotográficas, etc. Quando são jogados em lixões, ameaçam o meio ambiente porque possuem metais pesados altamente tóxicos, como chumbo, mercúrio e cádmio. Em contato com o solo, contaminam o lençol freático. Queimados, poluem o ar. Também são ruins para a saúde, pois se acumulam no corpo, podendo causar doenças como o câncer. |
Só lembrando que a reciclagem é a última etapa dessa cadeia. Antes é preciso reduzir a produção, consumir conscientemente e reutilizar. Afinal, para fabricar um computador são gastos 240 quilos de combustível, 22 quilos de produtos químicos e 1,5 tonelada de água. Para facilitar sua vida e dar uma mãozinha ao planeta, montamos um pequeno guia de descarte para os eletrônicos (ou componentes) que já não têm função em sua casa. O lixo comum, claro, não está entre as opções!
GUIA DE DESCARTE
• E-lixo Maps
Se a principal dificuldade para descartar um eletrônico é saber onde deixá-lo, o E-lixo Maps é a solução – pelo menos para paulistanos. Criado em parceria do Instituto Sergio Motta com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, o site (www.e-lixo.org) permite que, com seu CEP e o tipo de lixo que quer descartar, seja possível encontrar o local mais próximo que recicla o resíduo. “Temos cerca de 200 postos cadastrados, principalmente nas zonas central e oeste da cidade de São Paulo. A ideia é estender para todo o país, mas ainda não temos previsão de quando isso será feito”, diz Renata Motta, diretora do Instituto.
O que doar: Aparelhos fora de uso como microondas, som, ar condicionado, baterias, carregadores, cartuchos, celular, chip GSM, computador, fontes, geladeira, impressoras, máquinas de calcular e escrever, monitores, mouse, MP3 player, no-break, telefone, TV, vídeo game.
O que será feito: os aparelhos devem estar no final de sua vida útil e serão encaminhados para reciclagem.
Contato: www.e-lixo.org/contato.html
• Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR-USP)
“Em 2009 coletamos cinco toneladas de e-lixo, mas as empresas de reciclagem não se interessaram pelo material porque são especializadas na reciclagem de apenas um tipo de componente (do plástico, dos metais etc.). Então surgiu a ideia de separar os componentes e, depois, destiná-los para a reciclagem”, afirma Tereza Cristina Carvalho, diretora do Centro de Computação Eletrônica da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Cedir. Segundo ela, o centro tem duas grandes vantagens que podem motivar a doação: “Ninguém vai ter medo de doar e ter seu equipamento destinado para algo incorreto porque a USP é uma instituição confiável. Além disso, a experiência será repassada a outras universidades, estimulando que pessoas de outras cidades façam o mesmo”.
O que doar: Aparelhos em uso e fora do uso das áreas de telecomunicações ou informática (incluindo placas e componentes)
O que será feito: os que estiverem em condições de uso serão reparados e enviados para instituições parceiras e projetos sociais. Os que estiverem no final de sua vida útil serão desmontados e os componentes, individualmente, encaminhados para reciclagem.
Contatos: (11) 3091-6454/6455/6456 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h)
cedir.cce@usp.br
• Comitê para Democratização da Informática (CDI)
Tudo começou em 1994, quando houve a primeira campanha de coleta de computadores no Morro Santa Marta, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, o CDI já existia como organização. Hoje, mais de 15 anos depois, cerca de 15 mil computadores foram coletados. O objetivo é a inclusão digital, já que mais de 1,25 milhão de pessoas passaram por centros de inclusão criados pela organização nos últimos anos. A reciclagem surgiu como segunda opção; muito bem-vinda, aliás.
O que doar: Aparelhos em uso e fora de uso como computadores.
O que será feito: os que estiverem em condições de uso serão reparados e enviados para os CDIs comunidades – centros de ensino de informática mantidos pela organização em regiões de baixa-renda. Os inoperantes serão encaminhados para reciclagem.
Há lugares em que é proibido jogar equipamentos ou componentes eletroeletrônicos no lixo comum. “No Japão, o consumidor paga para a prefeitura recolher o e-lixo e encaminhá-lo para reciclagem. Na União Europeia a coleta é geralmente gratuita e feita em pontos de coleta. Em Nova Iorque a responsabilidade é atribuída ao produtor, que deve recolher os eletrônicos na casa do consumidor. Na Califórnia paga-se uma taxa na hora da compra e a coleta dos aparelhos velhos é feita nos estabelecimentos que os comercializam”, diz Felipe Andueza, analista ambiental do Coletivo Lixo Eletrônico. |
Contatos: http://democratizacao.ning.com/notes/CDI_no_Brasil (contatos de todos os escritórios regionais do CDI) ou www.cdi.org.br/notes/Doe_Agora
• Fabricantes
“Caso não encontre um posto de coleta próximo, o consumidor deve entrar em contato com o fabricante para saber qual o procedimento para descarte”, orienta Adriana Charoux, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Pelas minhas tentativas de descarte, vimos que alguns já assumiram essa responsabilidade, finalmente! Segundo a pesquisadora, no caso de pilhas, baterias e produtos tóxicos, qualquer loja ou fabricante é obrigado a recolher – independentemente da marca. Ou seja, qualquer loja deveria aceitar suas baterias, sejam elas da marca que forem. O melhor, para não perder tempo, é tentar com o próprio fabricante primeiro.
O que doar: Qualquer aparelho eletroeletrônico fora de uso.
O que será feito: cada empresa possui uma política diferente de reciclagem, mas todas são obrigadas a coletar os equipamentos que produzem. Lute por esse direito e, nas próximas compras, lembre-se da empresa que aceitou de volta (ou não) seus eletrônicos velhos.
Contatos: os SACs das empresas são obrigados a informar sobre o processo de reciclagem. Procure o contato no manual do aparelho ou no site do fabricante.
Saiba mais:
O relatório do Pnuma divulgado em fevereiro pode ser lido na íntegra aqui (em inglês)
Confira o vídeo The Wasteland produzido pela rede de TV CBS, sobre lixo eletrônico na China – para onde alguns países desenvolvidos mandam seu lixo eletrônico (em inglês)
* Lúcia Nascimento é jornalista em São Paulo.
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Muito bom este artigo pois aborda um problema econômico/meio-ambiente e fazer os dois convergirem na mesma direção acredito que este deve ser o desafio logico com a conscientização da população
Abraços
Pena que os telefones que deixaram, as pessoas não sabem informar direito, como podemos doar alguma coisa