Secretaria de meio ambiente de Goiás e uma comitiva do conselho de meio ambiente de Alto Paraíso prometem vistoriar esta semana uma região no vale do rio dos Macacos, entre aquele município e São João da Aliança, na Chapada dos Veadeiros.
O movimento se deve a denúncias de ambientalistas, guias de caminhadas, agências de turismo e proprietários rurais sobre desmatamento, queimadas e abertura de estradas no local. Segundo essas fontes, o Cerrado regional está sendo degradado pelo menos desde setembro do ano passado por Clotário Menna Barreto Filho (62), morador da capital federal. As atividades cessaram com a chegada das chuvas.
Ouvido pela reportagem de O Eco, ele afirmou possuir uma fazenda com três mil hectares e nunca ter aberto novas áreas, além de uma parcela desmatada pelos antigos donos, com 50 hectares. “Ela era explorada por pessoas da cidade desde a década de 1930, com criação de gado e manejo. Eu só faço a manutenção da área, retirando lixo, muito ferro velho”, disse. A região é reconhecida pelo caos fundiário.
Também comentou que tem histórico antigo na chapada e que atua pela conservação. “Eu sou nativo da região, por sucessão estou lá desde 1850. Estamos implantando um projeto de manejo, tem que fazer georreferenciamento, levantamento topográfico, tudo coisa nova, um princípio moderno de conservação da natureza. Sei que é mais vantajoso ter retorno a partir da conservação. Somos pessoas inteligentes, moramos em Brasília. Nem carne vermelha eu como”, disse Clotário, que também negou criar gado.
Questionado se possui licença ambiental para desmatar, abrir estradas e outras atividades em suas terras, foi taxativo. “Não tenho necessidade. É tudo virgem. Então licença ambiental para quê?”, comentou. A reportagem também consultou o setor de licenciamento da secretaria de meio ambiente de Goiás, que não localizou qualquer licença emitida em nome de Clotário.
Conforme ambientalistas como Álvaro de Angelis, da Rede de Integração Verde, e fiscais do Instituto Chico Mendes que foram ao local e notificaram funcionários pelo desmatamento não-autorizado, a falta de licença é fato grave. Inclusive porque a fazenda está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pouso Alto, que circunda o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, e foram atingidas áreas úteis ao turismo regional. “Resoluções do conselho estadual de meio ambiente limitam os desmatamentos na APA a dez hectares por propriedade. O fazendeiro desmatou e queimou Cerrado, inclusive em margem de rio, algo proibido pela legislação federal, a não ser em casos específicos de utilidade pública. O fogo atingiu até topos de morros”, ressaltou de Angelis.
Conforme o secretário de meio ambiente de Alto Paraíso, Gerson Nagel, que também é produtor rural, a vistoria servirá para elucidar o caso. “Iremos vistoriar e conversar com o proprietário, e também confirmar se sua fazenda está mesmo em Alto Paraíso”, disse. Também ponderou sobre o tamanho do problema levantado pelos ambientalistas. “Na região há muito misticismo e ataques a proprietários de terras, e muitos não procedem. Aqui fazemos um trabalho junto ao sindicato rural para orientar os produtores sobre questões ambientais”, comentou.
Vizinhos em disputa
Durante a entrevista, Clotário Barreto Filho acusou um “grupo” de invadir sua fazenda, se dizendo do “movimento ambiental”. “São invasores de terras, têm documentação fria, buscam dinheiro do exterior de ONGs, é disso que eles vivem. Enganam as pessoas, estão enganando a Justiça. Dizem que estão plantando 28 mil mudas de árvores nativas. Mentira!”. Segundo ele, o grupo comprou uma área com apenas 250 hectares legalmente, mas acabou invadindo sua fazenda.
Um dos acusados por Clotário é seu vizinho Danilo Tenfen. Segundo ele, o fazendeiro se valeu dos imbroglios fundiários regionais para derrubar uma casa e avançar sobre parte dos seus quase 1.800 hectares de terras. “Ele derrubou uma casa, tacou fogo e mudou as divisas”, disse. Conforme Tenfen, a confusão sobre as terras no vale do rio dos Macacos levou ao cancelamento de todos os títulos em março do ano passado. “O que vali ali hoje é posse sobre terras do estado. Talvez por não ter documentos válidos, ele tenta consolidar a posse sobre uma fazenda que diz ter comprado de outro vizinho”, comentou.
A disputa, pelo visto, vai acabar nos escaninhos do judiciário. “Eles invadiram e colocaram um rancho lá dentro da minha área. Isso vai ser provado na Justiça. Eu os retirei pelo meu direito legal de autodefesa e aí abriram um processo. Só que nem para audiência eles foram. Isso está tudo registrado no fórum de Alto Paraíso”, disse Clotário. Para ele, a intenção do grupo é usar denúncias para desviar a atenção das pessoas. “Existe muita orgia. Não posso acreditar que esse pessoal que fuma maconha, que coloca veneno pra dentro do corpo, possa estar cuidando do planeta”.
Caminho do meio
Para Álvaro de Angelis, problemas como esse ainda pontuam a Chapada dos Veadeiros pela ausência de fiscalização pública e pela falta de uma cultura de cuidado com o meio ambiente nos municípios abrangidos pela APA do Pouso Alto. “Alto Paraíso tem pasta ambiental, mas não equipe de fiscalização. Órgãos federais e estaduais também têm pouca estrutura. Muitos ruralistas ainda não perceberam que a legislação ambiental trabalha a seu favor, e não o contrário”, apontou o ambientalista da Rede de Integração Verde.
Por isso ele defende o que chama de “agenda positiva” entre ambientalistas e ruralistas da região. “Não há sempre a necessidade de confronto. Falta às lideranças de ambos os lados sentar e descobrir pontos comuns a serem trabalhados. Assim evitaríamos que esse tipo de situação se perpetue”.
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Clotario é uma pessoa do bem, eu mesmo o conheço pessoalmente e sabemos e confiamos que suas ações são dignas e provavelmente esse desmate foi feito por esse que invadiu as terras. Ian