Enquanto a última rodada de negociações do clima antes da reunião de Copenhage terminava em clima de frustração em Barcelona, os pesquisadores de cerca de 30 países não desenvolvidos – reunidos até ontem (6) em São José dos Campos (SP) para discutir os desafios das nações emergentes frente às mudanças climáticas – comemoravam os bons resultados do encontro. O maior deles, segundo consenso geral, foi o surgimento de uma rede de pesquisa envolvendo realidades climáticas e sociais muito diferentes umas das outras, como a da Zambia (Africa) e Mongólia (Asia), por exemplo.
Durante os três dias de evento, os pesquisadores buscaram identificar as principais necessidades em pesquisas para seus países com foco na adaptação às mudanças climáticas, isto é, como gerenciar os impactos que as alterações no clima trarão ao longo dos próximos anos, como ocorrência de enchentes, secas, furacões, desertificação e aumento no nível do mar. Isso porque o consenso é que as discussões internacionais ainda estão muito voltadas para as ações que precisam ser tomadas para lidar com as causas do aquecimento do planeta, como a redução de emissões de gases de efeito estufa, chamada de mitigação.
Ao final do encontro, os cientistas, divididos em grupos temáticos – que incluíam desde ações para aumentar a efetividade da disseminação de informações sobre o tema até o papel das comunidades tradicionais e indígenas na adaptação – identificaram ações-chave a serem realizadas. Entre elas estão: promover e motivar a qualificação de novos cientistas, identificar as principais combinações climáticas e sociais que tornam a biodiversidade e a população vulneráveis nos diferentes países não desenvolvidos, compilar dados já existentes no assunto e desenvolver práticas de orientação para auxiliar a produção científica.
Segundo Carlos Nobre, pesquisador do Inpe, do encontro sairão alguns produtos científicos. Em cerca de quatro meses um sumário das conclusões do evento serão publicadas em uma revista científica. Em 2010 deve sair outro sumário e, em 2011, uma revista científica internacional trará número especial com 25 papers da comunidade de pesquisadores reunidos no Brasil.
Para um leigo, tudo pode parece muito teórico. Mas, para os cientistas, este é um passo importante para que o tema da adaptação entre com mais força nos debates internacionais sobre mudanças climáticas, que são baseados justamente nestas pesquisas dos cientistas. A idéia é que esses papers e produtos científicos sejam considerados no próximo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que norteia as discussões das Organizações Unidas.
“Quando se fala em mudança climática, a área mais desenvolvida é o que é a mudança, o que são os impactos, como fazer projeções para o futuro. É uma abordagem dos sistemas naturais. Essa parte dos sistemas humanos, que tem a ver com vulnerabilidade e adaptação, tem menos expressão. As conclusões desse workshop e as idéias e prioridades desenvolvidas vão servir como um modelo muito bom para o Brasil avançar, porque quase tudo o que foi discutido aqui é muito aplicável ao país”, diz Carlos Nobre.
Segundo o pesquisador brasileiro, o Brasil deveria ocupar um papel de liderança, não só nas negociações internacionais, como os ambientalistas vêm pedindo, mas também uma liderança científica. Esse foi o sentimento geral no final do encontro, o que não poderia ser mais distante da posição adotada pelo país em Barcelona, nas negociações pré- Copenhague.
Leia mais:
Leia também
Entrando no Clima#40 – Florestas como forças de estabilização climática
Podcast de ((o))eco fala sobre como as florestas têm ganhado espaço nas discussões da COP 29 →
ONU espera ter programa de trabalho conjunto entre clima e biodiversidade até COP30
Em entrevista a ((o))eco, secretária executiva da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) da ONU fala sobre intersecção entre agendas para manter o 1,5ºC →
Livro revela como a grilagem e a ditadura militar tentaram se apoderar da Amazônia
Jornalista Claudio Angelo traz bastidores do Ministério do Meio Ambiente para atestar como a política influencia no cotidiano das florestas →