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Pequeno Grande Parque

No Paraná, diferentes ecossistemas convivem em uma área inferior a 800 hectares. O Parque do Guartelá preserva o sexto maior cânion em extensão da Terra.

Andreia Fanzeres ·
22 de dezembro de 2005 · 19 anos atrás

Existe um lugar no sul do Brasil onde é possível ver espécies de Mata Atlântica, Cerrado, banhados sulinos, campos de altitude, até Caatinga, além de araucárias, orquídeas, bromélias, e uma riqueza muito particular de flores. Tudo nos 798 hectares do Parque Estadual do Guartelá, a pouco mais de 200 quilômetros de Curitiba (PR). Mesmo com toda essa diversidade, dentro desta pequena unidade de conservação, os atributos que mais saltam aos olhos não são biológicos, mas geológicos. Além de cachoeiras e sítios arqueológicos, o parque protege parte do 6º maior cânion do mundo em extensão.

O cânion do Guartelá, com 32 quilômetros de comprimento, é o maior atrativo da região. Para ver o traçado do rio Iapó (tributário do rio Tibagi), a 450 metros abaixo dos paredões, os visitantes têm duas opções de trilhas, ambas fáceis de percorrer e sem grandes elevações. Somadas, elas cobrem cerca de dois terços de toda área protegida e levam de quatro a seis horas de caminhada. Só que apenas uma delas pode ser percorrida sem a orientação de um profissional. O visitante que não quiser a companhia de um guia, pode conhecer o mirante do cânion, se banhar nas águas claras do rio Pedregulho e ver a cachoeira da Ponte de Pedra em dois quilômetros de trilha pavimentada com troncos de madeira.

Quem quiser um pouco mais de aventura pode procurar no centro de visitantes do parque o telefone de guias como Ivanize Barbosa, que leva turistas para conhecer pinturas rupestres de dois mil anos (foto), passando por diversas esculturas de arenito que margeiam a trilha. “Cobro 50 reais para passar o dia com os grupos, e não só dentro do parque”, diz. Ivanize costuma guardar suas energias para levar os visitantes às propriedades do entorno, que também têm cachoeiras e onde é permitido praticar esportes radicais, como rapel.

Embora o parque tenha diversos paredões e cachoeiras propícias a esse tipo de atividade, Cristovam Sabino Queiroz, gerente da unidade, diz que precisou proibir a prática porque o parque estava ficando muito degradado. “Tudo isso aqui era área particular, então as pessoas vinham para acampar, faziam comida, fogo e desmatavam. Para recuperar a área, tive que interditar lugares como a Ponte de Pedra”. Queiroz informa que o parque recebe entre 12 mil e 15 mil visitantes por ano, bem menos do que costumava comportar antes das interdições.

Segundo a chefe do departamento de biologia geral da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ivana Freitas Barbola, cerca de 90% da área do parque do Guartelá tem vegetação secundária. Mesmo assim, a região é muito importante para conservação porque funciona como uma “ilha”. “Todo entorno é bastante alterado, com zonas de agricultura e pastagem bem próximas”, diz Ivana. A pesquisadora enumera a onça e o lobo-guará como exemplares de fauna ameaçada que podem se refugiar no parque, além de algumas espécies de aves migratórias e outros animais. (foto flor)

Área reduzida

Ainda que não seja impossível, é no mínimo improvável que animais de grande porte sobrevivam numa área tão pequena, se comparada a outras unidades de conservação. Seguramente, se o projeto original do parque tivesse sido respeitado, a possibilidade de encontrar mais biodiversidade aumentaria, e numa escala considerável. Em 1992, quando o parque foi criado no papel, ele tinha cerca de 4.200 hectares. “Mas não conseguimos desapropriar todas as propriedades, por isso ele nasceu com os atuais 798 hectares”, explica o engenheiro agrônomo do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Luis Augusto Diedrichs.

Apesar de o parque ter seu plano de manejo concluído em 2002 e Queiroz dizer que a situação fundiária está regularizada, um pequeno sítio mantém-se encravado no Guartelá. Para chegar até a propriedade da família de Olimpio Mainardi, é preciso cruzar a portaria do parque, num caminho que se vê bois pastando e animais de criação como patos, galinhas e bodes soltos. Apesar do visitante estar teoricamente dentro do parque, para começar as trilhas, ele precisa passar por dentro do sítio.

“Na época, o sr. Olimpio tinha aceitado a desapropriação. O dinheiro da indenização foi depositado e ele chegou a usar parte da quantia. Mas apareceu um advogado esperto que o fez acreditar que sua propriedade valia, em vez dos 100 mil reais propostos, 10 milhões de dólares!”, conta Diedrichs. E a situação ficou pendente. Hoje, o engenheiro explica que o IAP faz uma política de boa vizinhança com os demais proprietários, mesmo sabendo que algumas áreas do parque são ameaçadas por plantas exóticas como braquiária e pinus, provenientes das fazendas do entorno. Graças a esse relacionamento amistoso, o instituto anunciou que pretende ampliar a área protegida em 2006.

Segundo Diedrichs, uma das prioridades da administração do Guartelá é aumentar a unidade de conservação para 6.500 hectares. “Estamos com recursos previstos no orçamento e já fizemos o mapeamento da região, sendo que em alguns lugares vamos usar as demarcações de 1992”, explica.

Como a área do parque protege apenas o que está à margem esquerda do cânion, o objetivo da expansão da unidade é cobrir também o lado direito, ainda considerado em bom estado de conservação. Nos dois lados, a exposição do arenito furnas no chão ou nas esculturas de pedra chama a atenção dos geólogos. É possível analisar muito bem as estruturas das rochas, que são muito semelhantes às do famoso Parque Estadual de Vila Velha, também no Paraná. Uma fonte infindável de conhecimento, segundo Flavia Fernanda de Lima, geóloga do Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná (Geep-Açungui). “O Guartelá nos dá a oportunidade de testemunhar algumas importantes marcas de como aconteceu boa parte da evolução geológica da região

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

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