Cidades para Pessoas são aquelas com espaços públicos que favorecem o convívio e com sistemas de mobilidade mais eficientes e limpos do que o das cidades para automóveis. São centros urbanos nos quais o transporte coletivo é priorizado e onde existe espaço para deslocamentos não motorizados, para caminhadas, bicicletas, patins, skates, patinetes e… cachorros!
Sol, a cachorra mais linda do mundo
Isso, cachorros. Já explico. Primeiro uma breve contextualização. O conceito de Cidades para Pessoas foi proposto pelo dinamarquês Jan Gehl e serviu de base para mudanças significativas na arquitetura e urbanismo em Copenhague e inspirou outras transformações. De Londres e Paris a Bogotá, há exemplos de alterações significativas de planejamento em todo o planeta. Muitos deles foram reunidos no projeto Cidade para Pessoas, organizado pela jornalista Natália Garcia, que já escreveu a respeito no eco.
A preocupação crescente com o meio ambiente nas metrópoles e o colapso das capitais automobilísticas (Detroit talvez seja o principal exemplo da falência do rodoviarismo – veja fotos) impulsionam tais mudanças. O excesso cotidiano de poluição e congestionamentos das cidades pensadas para carros, aliado ao interesse das novas gerações em mais qualidade de vida, levaram ao fortalecimento da ideia de se planejar centros urbanos para pessoas. Não por acaso, a Secretaria de Transportes de Nova Iorque contratou Gehl e sua equipe para assessorar no processo de fechamento de avenidas e ampliação do sistema cicloviário. E Paris agora anuncia restrições para carros nas margens do Sena (veja reportagem inglês a respeito na Al Jazeera).
Mas e os cachorros?
JP Amaral e Nick passeando em São Paulo
A relação entre cuidar de um cão em uma cidade e defender Cidades para Pessoas é fácil de perceber para qualquer um que entende que o melhor amigo do homem não é um objeto; mas sim um animal com necessidades de espaço e circulação bastante específicas. Não importa tamanho ou raça, todo cão precisa passear. Reconhecer o território e circular é fundamental para o animal e suas necessidades instintivas básicas.
E não basta uma voltinha no quarteirão para satisfazer essa premissa. É preciso caminhar mesmo, permitir que o animal que vive em um ambiente fechado se exercite, gaste energia. Há quem defenda passeios de 1h30 por dia (Cesar Millan, que ficou famoso por trabalhar com cachorros de estrelas de Hollywood é um deles). Até os cães que vivem em mansões ou casas com quintais enormes precisam sair para as ruas – mesmo que seja grande, o espaço cercado continua sendo um canil na cabeça do animal. Na natureza não existem paredes.
Caminhar com o cachorro faz bem para saúde. Ter pessoas andando com cães é bom para as cidades (pessoas conscientes que limpam a sujeira deixada e, no caso de cachorros agressivos, que controlam riscos com focinheiras). Trata-se de ocupação positiva de espaço público. Pessoas circulando à pé cobram calçadas adequadas, redução de limite e controle de velocidade, faixas de pedestre, restrições para carros. Bairros com pessoas nas ruas são bairros vivos.
Aline Cavalcante e Pedro, na Praça Roosevelt
É claro que tem também quem mantém cachorro preso em casa e só sai para passear de carro. Gente limitada à rotina condomínio fechado/apartamento, carro, trabalho, carro, shopping, carro, academia/clube, gente que nunca sai na rua e só convive em espaços privados. Essas pessoas não vivem na cidade, mas em bolhas isoladas.
Cachorros gostam de árvores, grama, terra. Em vez do asfalto e concreto tão queridos para os motoristas (leia-se expansão de avenidas, pontes e viadutos), quem cuida de um cachorro prefere terrenos permeáveis, parques, gramados, áreas arborizadas. Natureza.
Ou seja, de Cidades para Pessoas.
E para cachorros.
“Me leva para passear?”
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