Automóvel é ferramenta de planejamento urbano no Brasil. Por eles são feitos viadutos, túneis, passagens subterrâneas, largas avenidas e prédios inteiros para estacionar. Ainda assim, quanto maior a cidade e maiores os investimentos na mobilidade em automóvel, maiores os congestionamentos.
A cada ano o drama dos congestionamentos e da perda de qualidade de vida torna-se pior e mais clara é a necessidade de mudança de direção. A construção de cidades dedicadas ao fluxo de pessoas em automóveis é invenção recente e que precisa urgentemente ser repensada. Mas como toda construção coletiva, as cidades só podem mudar através da união de interesses difusos, pressões e negociação.
Em prol de “outra cidade possível”, o Dia Mundial sem Carro (DMSC), sempre no dia 22 de setembro é a efeméride favorita de quem acredita na construção de novas utopias urbanas. A lógica é simples, reunir em torno de uma data pessoas com a missão de conscientizar sobre a importância de alternativas para a mobilidade urbana para além do automóvel.
Pessoas e entidades buscam levar ao público “leigo” em geral a importância de experimentar outras maneiras de se deslocar pela cidade. O “Desafio Intermodal” geralmente abre a reflexão para demonstrar que existem alternativas e que muitas delas são mais rápidas e eficientes do que sonha imaginar o Sr. Senso Comum, sentado ao volante. Apesar dos contornos de competição esportiva centrada no tempo de deslocamento, os Desafios Intermodais Brasil afora têm sido ferramenta eficaz de sensibilização e de visibilidade em torno da necessidade de alternativas ao carro.
O princípio básico de um DMSC é o engajamento cidadão em torno do debate sobre os rumos da cidade. Para que seja bem sucedido, é importante, portanto, a união do poder público e da sociedade civil em torno do diálogo e da reflexão. A parte mais importante sob a alça da administração municipal é liderar pelo exemplo e principalmente restringir o acesso por automóvel a uma área delimitada da cidade, garantindo que todos saibam da iniciativa e participem.
No entanto para ser bem sucedido, um Dia Mundial sem Carro precisa do apoio e participação da população que deverá ter o correto entendimento da iniciativa além de estar engajada no planejamento e divulgação de todas as iniciativas.
Em última instância, é o Sr. Volante, o cidadão que reclama dos congestionamentos, ao mesmo tempo em que os causa é o receptor ideal para o discurso de uma outra mobilidade. Ainda vale a pena organizar um DMSC, porque:
1. … ao fazer tudo certo, pode ser um acontecimento festivo para os que vivem, estudam, se divertem e trabalham na comunidade envolvida.
2. …é uma oportunidade de criar laços de vizinhança e comunidade em um ambiente tão favorável ao distanciamento urbano.
3. …um Dia bem organizado é uma excelente oportunidade de enxergar novas perspectivas e dar pistas importantes na direção de quebras de paradigma necessárias para consertar anomalias e aberrações que destroem a qualidade de vida nas cidades.
4. …os desafios da mobilidade urbana são objetivamente menos complexos de serem resolvidos, dadas as atuais condições tecnológicas, econômicas e sociais do que, por exemplo, os desafios em relação a saúde, educação, violência, etc.
5. …o simples ato de coordenar uma iniciativa dessa natureza é um território de aprendizado para todos os envolvidos e um excelente balão de ensaio para a resolução de problemas ainda mais complexos.
6. …é uma oportunidade de mostrar à nossas crianças que somos uma sociedade capaz de agir e transformar o ambiente em que vivemos sem depender de um salvador da pátria.
7. … por fim, por que todo o processo de construção ampla, centrada no cidadão, com ativismo, planejamento, consultas e implementação conjunta durante todo o processo irá nos fornecer um modelo de democracia responsável e participativa, e que no final das contas é a resposta para os grandes problemas da atualidade.
Os pontos acima são parte de uma justificativa bem mais completa presente no site da rede New Mobility.
Infelizmente, esse diálogo democrático que representa o Dia Mundial sem Carro ainda tem um longo caminho a ser percorrido no Brasil, um caminho que passa inclusive pelo diálogo democrático necessário para a construção das cidades que queremos. Em geral, a sociedade civil tem sido mais competente em provocar o debate, mas muitos administradores, técnicos e prefeitos Brasil afora ainda não foram capazes de entender a importância e a dimensão de um promover um Dia Sem Carro.
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