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Saímos de Jacareacanga com o objetivo de chegar em Itaituba em dez dias. O trecho, o último desta primeira fase do projeto Cicloamazônia, foi disparado o mais difícil de toda a viagem. De saída, as subidas intermináveis do percurso fizeram nossa média cair para 40 km por dia, completados sempre com muito esforço. Em cinco dias, apesar de exaustos, havíamos percorrido 200 km dos 400 km deste trecho.
Além de ter sido a parte que mais exigiu preparo, foi também em que encontramos menos infraestrutura – leia-se: menos água potável, mais trechos isolados e mais acampamentos na mata. Entre Jacareacanga e Itaituba encontram-se boa parte dos garimpos da região, muitos dos quais em ramais da própria Transamazônica. Dormimos em um restaurante que serve de base para alguns deles e em uma pista de pouso que é a única ligação entre um campo onde trabalham mais de 100 homens e o resto do mundo. Pudemos conhecer a realidade da extração de ouro, conversar com garimpeiros, ouvir histórias sobre descoberta de fortunas, ruína de alguns homens e até de tomada de garimpo por guerrilheiros no exterior. Tivemos que redobrar a atenção ao coletar água dos iguarapés, quase todos de alguma forma contaminados pela extração do minério.
Reunimos informações e fotos que serão apresentadas em detalhes na próxima fase do projeto. Como quem tem acompanhado o blog já sabe, nossa expedição tem como objetivo principal a produção de conteúdo sobre a região. Para viabilizar a edição do material que reunimos nesta primeira etapa, abrimos um financiamento coletivo no site Catarse – clique aqui para participar.
Floresta e lama
Nos últimos 200 km da viagem passamos por 120 km de isolamento dentro da Floresta Nacional da Amazônia, o trecho mais preservado de toda a estrada. Além das araras, presentes em praticamente toda a viagem, desta vez avistamos também jacarés, tucanos, cobras, macacos e uma infinidade de insetos de todos os tamanhos, formas e cores. Também vimos muitos animais atropelados. O limite de velocidade de 60 km/h e as placas de “cuidado, animais na pista” são ignorados pelos motoristas de picapes e caminhões, sempre correndo demais.
Não são só os animais as vítimas da imprudência. Não foram poucas as notícias de acidentes fatais que ouvimos em trechos próximos, o que reforçou a sensação de incomodo provocada pela visão constante de pedaços de automóveis espalhados pela estrada. Pneus destruídos, para-choques e toda sorte de lataria, lanternas, pinos e placas somadas à poeira constante dão um tom de Mad Max para a Transamazônica.
A poeira, aliás, deu uma trégua no final. A chuva que não deu as caras por quase todo o tempo em que estivemos na estrada apareceu na forma de uma tempestadade em uma das últimas noites. Um espetáculo de se ver…
… um desastre para pedalar no dia seguinte. A poeira assentou e, logo, com mais chuva, o terreno virou lama. Trechos de argila grudavam nas rodas, catracas, freios e correntes, fazendo com que tudo travasse.
Em alguns trechos, faltando menos de 100 km, chegamos a pensar em desistir. Literalmente arrastamos as bicicletas até a base do Ibama, nossa última parada.
Finalmente, após 1.343 km rodados, chegamos em Itaituba, último ponto da nossa expedição. Nas próximas semanas pretendemos editar as fotos, finalizar os desenhos e colocar no papel as histórias que reunimos. Mais notícias em breve neste espaço e também pelo facebook.com/cicloamazonia e twitter.com/cicloamazonia.
Agradecemos a todos que nos acompanharam, apoiaram e ajudaram a tornar realidade este sonho. Especialmente às famílias, às companheiras e aos amigos.
Encarar tudo que passamos seria impossível sem o apoio de vocês.
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