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Política e mentiras ambientais

O governador do estado de Santa Catarina não cansa de nos surpreender com suas pérolas contra a área ambiental. Falando sobre o Congresso Mundial de Turismo, em Florianópolis, ele se superou.

15 de maio de 2009 · 16 anos atrás
  • Maria Tereza Jorge Pádua

    Engenheira agrônoma, membro do Conselho da Associação O Eco, membro do Conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Nat...

O governador do estado de Santa Catarina não cansa de nos surpreender com suas pérolas contra a área ambiental. Falando hoje pela TV sobre o Congresso Mundial de Turismo que se realiza em Florianópolis, com a abertura feita ontem pelo Presidente da República, com a presença de nosso ministro do Turismo e muitas autoridades e representantes de várias empresas do setor, de vários países, ele se superou.

Quando o entrevistador perguntou se as novas infra-estruturas previstas para aumentar o turismo no estado teriam estudos de impacto ambiental, ele prontamente respondeu que a indústria do turismo não polui e não degrada o meio ambiente. “Pelo contrário”, falou o governador de Santa Catarina, os hotéis melhoram a natureza onde estão. E deu como exemplo um resort que foi construído em plena área de restinga, área de preservação permanente pelo só efeito da lei. Mas, não podemos nos esquecer, a Lei aqui é outra e é única, pois restringiu em muito as áreas de preservação permanente previstas no Código Florestal brasileiro, como foi fartamente denunciado aqui mesmo no O Eco por vários colunistas e por várias reportagens.

O imperador de Santa Catarina, a exemplo de outros governantes por aqui, permite de tudo. Em plena Florianópolis, cantada em todo o mundo como algo muito belo, se vê dia a dia muitas construções desde shoppings centers, condomínios, casas de ricos e pobres sendo estabelecidas em áreas de mangue, restinga ou declividades protegidas pela Lei federal.

Falou o governador que está previsto um metrô de superfície, um complexo hoteleiro em Celso Ramos, duplicação de rodovias, aeroporto, entre outras obras de infra-estrutura, que trarão no início 12.000 empregos. Será, senhor governador, que estas obras não causarão nenhum impacto ambiental, como vossa excelência afirmou? E as favelas que circundam esses empreendimentos, estabelecidas durante a construção e jamais removidas, a não ser evidentemente pelos desbarrancamentos ou pelas inundações? Não importam na concepção dessas autoridades as seqüelas de desbarrancamentos, sedimentação e inundações, nem tampouco a poluição de rios e demais corpos de água. São culpa só de São Pedro mesmo, na leitura deles próprios.

Disse mais nossa autoridade máxima – nossa não, pois eu não votei nele e jamais o faria – que o estado de Santa Catarina tem a maior parcela de Mata Atlântica do Brasil, 50% segundo o governador. O que será que o fizeram acreditar que é Mata Atlântica protegida? Onde estão esses 50% de Mata Atlântica? Será que qualquer capoeira ou pastos ou eucaliptos foram considerados Mata Atlântica? Bem na hora de se autorizar grandes empreendimentos, mangues, restingas e dunas, não são considerados, pelas autoridades, componentes de Mata Atlântica, pois tudo é permitido e até incentivado.

Tomar o café da manhã ouvindo esses absurdos de um inimigo do meio ambiente é triste e indigesto. Pior será, no entanto, continuar assistindo as conseqüências de tantos desmandos. Todos nós, que nos comovemos com as tragédias das últimas grandes inundações em Santa Catarina, nos perguntamos: porque o povo ainda vota em quem fez e em quem aprovou a nova Lei Ambiental do estado que reduz descaradamente, contra a legislação federal, a área de preservação permanente para apenas 5 metros ao longo de cursos de água? Nenhum, volto a repetir, nenhum deputado da Assembléia de Santa Catarina foi contra a Lei. Não houve um voto contra. Houve alguns que se abstiveram de votar. Lavaram as mãos, mas não conseguiram lavar suas caras, principalmente perante aqueles que defendem a preservação da Mata Atlântica e de cursos de água.

Este mesmo governador e esta mesma Assembléia conseguiram reduzir os limites do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, um dos melhores de Mata Atlântica do país, com seus mais de 80.000 hectares, para retirar sua parte costeira, beneficiando evidentemente o setor imobiliário, em detrimento de se preservar uma área contínua desde as montanhas e florestas de altitude até o mar, o que tem uma importância ecológica muito expressiva.

Será que estas autoridades que agora se gabam de fazer aqui, pela primeira vez na América Latina, o Congresso Mundial de Turismo, ignoram que é exatamente o turismo ecológico aquele que mais cresce no mundo?

Sendo o estado de Santa Catarina tão privilegiado em belezas cênicas e em diferentes paisagens naturais, merece mesmo destaque no nível nacional e internacional, mas, quando os governantes conseguirem, juntamente com o setor privado predatório, arrasar mais e mais, como vem acontecendo, com as belezas naturais, ele já não se destacará como algo muito atraente para o turismo ecológico e receptivo, a exemplo de muitos outros locais no Brasil e no mundo. A continuar com essa filosofia do senhor governador nós seremos algo medíocre, em poucos anos.

A esperança fica por conta da reação popular a tantas sandices que estamos assistindo por aqui todo santo dia.

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