Imagem de satélite feita no dia 13 de agosto
mostra fogo avançando dentro do parque (fonte: ICMBio) |
Ver as imagens do último incêndio no Parque Nacional das Emas em Goiás dá um frio na espinha. A certeza que se tem é que tudo foi incinerado, inclusive muitos animais devidamente torrados como os lentos tamanduás bandeiras. A primeira pergunta que ocorre é: o que vão comer e aonde vão se refugiar aqueles animais que sobreviveram a catástrofe? Sabe-se que todo entorno do Parque é de agricultura, em especial de soja. A segunda pergunta é: porque deixaram o fato acontecer?
O Parque Nacional das Emas, criado em 1961, era após o Pantanal a área natural onde se via o maior número e espécies da nossa fauna nativa. Muitos diziam ser o Parque Nacional das Emas um zoológico a céu aberto e com muita razão. Era muito fácil verem-se tamanduás bandeiras, lobos guarás, emas, veados campeiros, tatus, cervo, suçuarana, araras, anta, várias gaviões, tucanos, macacos, patos, entre muitos outros. Tudo perdido. Até ri, com certa tristeza, quando as autoridades responsáveis informaram que o Parque foi fechado ao turismo. Quem quer pagar para ver terra queimada e sentir o cheiro de carniça? Quando será que Emas vai se recuperar, nem que seja um pouco? Como vai se recuperar estando isolado num mar de soja? Como ficarão aqueles que vivem do ecoturismo na região?
Sendo eu testemunha do que se fez no passado para o estabelecimento e proteção deste Parque, penso ser necessário que se encontrem os responsáveis pela tragédia. Não se pode mais tolerar que as autoridades considerem esses fogos como fatalidades e se esqueçam delas apenas aconteçam. Alguém botou fogo na área; alguém não fez o que devia ser feito; alguém tem a culpa e muitos têm culpa.
Por incrível que pareça a idéia da criação do Parque Nacional das Emas surgiu de uma caçada. Fazendeiros ricos do Estado de São Paulo naquela época visitaram a região para caçar veados. A.T. Junqueira, um destes fazendeiros, procurou Filó Garcia, fazendeiro em Jataí para que o mesmo organizasse para ele e amigos uma caçada na região. Junqueira voltou da caçada muito impressionado com a riqueza e beleza do local e conversou com Filó Garcia, que ali deveria existir um Parque Nacional. Garcia convencido propôs sua criação e após alguns entreveros surgiu em 1961 o magnífico Parque Nacional das Emas com pouco mais de 130.000 hectares.
O Parque foi fechado para o turismo. Quem quer pagar para ver terra queimada e sentir o cheiro de carniça? Quando será que Emas vai se recuperar, nem que seja um pouco? Como vai se recuperar estando isolado num mar de soja? |
A implementação do Parque só foi possível devido à acirrada luta em sua defesa que impetrou seu primeiro diretor, em condições profundamente adversas: José Augusto de Alencar. No primeiro plano de manejo feito para o Parque, em 1978 e publicado em 1981, lemos na contracapa: “Se a juriti, a arara, a seriema continuam cantando nas veredas de buritis; se o tamanduá bandeira e o guará caminham tranquilamente por todos aqueles campos do planalto central brasileiro; se veados podem ainda formar comunidades alegres e numerosas em convivência harmônica com os bandos de emas; se podemos ainda admirar todo este espetáculo silvestre onde a liberdade e a preservação das espécies estão vivas e presentes em todos seus campos, rios e matas, lembramos de um homem, cuja visão ultrapassou o momento e alcançou a virtuosidade de saber participar, com firmeza e decisão, da árdua tarefa de proteção ao ambiente natural em benefício do homem. Todos têm de lhe agradecer, José Augusto de Alencar.”
Que eu saiba esta foi a única homenagem que o Dr. José Augusto de Alencar recebeu em vida. Ele ficou cego e morreu após trabalhar toda sua vida profissional em defesa do Parque Nacional das Emas. Ele não assistiu as melhorias feitas no Parque Nacional ao longo dos anos e tampouco, graças a Deus, viu a soja engolir, quase tudo do entorno do Parque Nacional, mas participou da elaboração do seu primeiro plano de manejo, que deixou muito claro ser o maior problema de Emas o perigo de incêndios.
Assim sendo posteriormente foi executado um planejamento de aceiros de 40 a 60 metros de largura ao logo das estradas e acessos, que deveriam ser queimados todos os anos para se evitar grandes incêndios no Parque Nacional. Assim desde 1994 não foram mais registrados grandes incêndios em Emas até o último acontecimento deste agosto de 2010. O manejo do fogo pelo fogo no Parque era considerado um exemplo para se evitar grandes tragédias em áreas protegidas do Cerrado. Até foi considerado um modelo internacional. Como então se deixou queimar praticamente todo o Parque Nacional das Emas este ano? Os aceiros não foram feitos? Ainda não consegui uma resposta das autoridades do ICMBio até o momento, mas a mim me parece claro que se foram feitos, o que duvido, não foram adequadamente mantidos.
Porém outro fato extremamente importante a se destacar é que a maioria dos incêndios em unidades de conservação é criminosa. Até as mais altas autoridades ambientais vêm afirmando esta percepção, que é clara, pois as frentes dos focos são muitas e, portanto o controle fica quase impossível com as condições climáticas que estamos vivendo, principalmente no Cerrado. Quem coloca o fogo? São fazendeiros vizinhos à procura de renovar pastos para seus rebanhos ou para facilitar o preparo da terra para plantios. São os inimigos dos Parques Nacionais que querem destruí-los na perspectiva de conquistarem mais áreas para seu negócio, ou para a mineração, como é o caso claro do Parque Nacional da Serra da Canastra. São, ainda, desafortunadamente alguns índios Ava Canoeiros e Carajás na Ilha do Bananal, com o claro objetivo de alugar pastagens para o gado dos fazendeiros vizinhos, ou para facilitar suas caçadas.
Esta estória da mídia fazer um grande alarido dizendo que não se podem atirar tocos de cigarros acesos pelas janelas dos carros não encontra demonstração científica, embora fazer-se isto denote mesmo falta de educação, mas não provoca incêndios. Outra idéia bem propalada de que os raios provocam incêndios naturais em determinadas condições é um fato inconteste, mas de muito mais fácil controle, pois fica confinado em pequenas áreas e assim é mais fácil combatê-lo. Fogos com várias frentes são propositadamente colocados. São criminosos e alguém tem de pagar por isso.
Criminosos também são os desleixos de autoridades responsáveis, que ao invés de tomar medidas de prevenção, literalmente correm para apagar o fogo. Precisamos exigir um basta neste filme anual e reiterado de ter-se de assistir áreas únicas em biodiversidade e fundamentais para a qualidade de vida das sociedades, queimarem, sem que os responsáveis paguem pelo crime. E quando digo responsáveis eu me refiro àqueles que colocaram o fogo e àqueles que o deixaram acontecer.
Quando vão lhe fazer justiça Dr. José Augusto de Alencar?
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Pena os Avá Canoeiro não serem convidados a participarem de eventos como Oficinas, Seminários, etc. Para exporem suas angústias sobre os atuais impactos e assédios em cima de seu território de cerca de 38 mil hectares que poderia muito bem.contribuir na Preservação do Cerrado brasileiro..
Grato pela oportunidade…