Trinta anos de sérios apertos no consumo de eletricidade pelo estado da Califórnia criaram, desde 1978, um milhão e meio de empregos extras. Parece mágica. Ou, pelo menos, bom demais para ser verdade. Mas é pura lógica de mercado, diz o professor David Roland-Host, de um centro de estudos sobre energia e uso sustentável de recursos naturais na universidade de Berkeley.
Em plena crise das hipotecas, eis que surge esta semana um economista disposto a provar que o tal do mercado funciona mesmo. No caso, empurrado pela legislação estadual, que forçou os consumidores californianos a gastar menos com suas contas de luz. As sobras, eles naturalmente passaram a botar em outras coisas.
Encher a geladeira
Por exemplo, em comida. Comprando-a em maiores quantidades com a folga no orçamento familiar, eles abriram postos de trabalho do outro lado do balcão no comércio varejista, no setor atacadista, na indústria de alimentos e em todas as empresas que vivem de encher geladeiras.
Suas próprias geladeiras entraram na dança. Foram trocadas por modelos mais eficientes, antecipando a chegada da nova geração de eletrodomésticos de baixo consumo às residências californianas. Por ano, 56 bilhões de dólares deixaram de ser queimados nas tomadas e foram eletrificar a produção de bens e serviços.
Não por acaso, o relatório de Roland-Host se chama “Eficiência energética, inovação e empregos”. Trocado em miúdos pelo autor, ele está aí para anunciar que “a eficiência energética de fato estimula a economia”. De quebra, tem dividendos ambientais.
A política contra o desperdício energético entrou em vigor na Califórnia quando, fora dos institutos de pesquisa, mal se falava no mundo de gases do efeito estufa ou de desordem climática. Estava em pleno vapor quando as emissões de carbono arrombaram nesta década as portas da economia mundial, apresentando-lhe um custo de produção que nunca se preocupara em contabilizar. Popularizado em manchetes e negociados em bolsa, as emissões de carbono ganharam um peso nas atividades humanas que ainda pode ser difícil de contabilizar, mas já não dá para ignorar.
Hoje, o quilowatt custa para o californiano 40% mais caro do que no resto dos Estados Unidos. Em compensação, seu consumo per capita de eletricidade caiu a cerca de 40% da média nacional. De troco, num país onde mais ou menos a metade da energia elétrica vem de usinas movidas a carvão, recordistas de fumaça tóxica, deu um lucro inestimável em controle da poluição atmosférica.
Esse ganho o relatório nem se aventurou a orçar. Ele trata exclusivamente dos resultados econômicos de uma política que nasceu sob a suspeita de conspirar contra a prosperidade da Califórnia, e acabou beneficiando-a.
O relatório saiu na hora certa. Neste momento, a Califórnia discute o que fará para seguir na frente dos Estados Unidos pelas próximas décadas. A tendência é adotar, até o fim do ano, com seu pacote de “Soluções para o Aquecimento Global” medidas ainda mais restritivas às emissões de CO2 e outros vilões da mudança climática. Quer dobrar as metas de substituição das termelétricas sujas por usinas limpas. Com elas, em 2025, metade da eletricidade que produz e consome virá de geradores eólicos e outras fontes alternativas.
Restava saber a que custos sociais e econômicos essa política ambiental vingaria. Não mais. Roland-Host acaba de entrar na conversa, apostando que, até 2020, as novas medidas terão criado mais 400 mil empregos e posto mais 48 bilhões de dólares por ano economia da Califórnia.
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