Salada Verde

Pequenos contra alterações no código

Discurso de entidade representativa de agricultores familiares no país bate de frente com as pregações de ruralistas contra a lei.

Salada Verde ·
28 de abril de 2009 · 16 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

Valendo-se do alento silencioso do Palácio do Planalto, ruralistas, parlamentares, o governador de Santa Catarina Luiz Henrique da Silveira e o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) vêm defendendo com unhas e dentes alterações no Código Florestal. Eles alegam, entre outros pontos, que manter a legislação como está inviabilizará o número mágico de um milhão de pequenos produtores no país.

Curioso, O Eco quis conhecer um pouco do que pensam os tais pequenos produtores, ouvindo Graça Amorim, coordenadora de Reforma Agrária da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Fetraf). As respostas apontam para algo bem diferente do alardeado pelos defensores de mudanças no Código Florestal.

Como a Fetraf avalia as propostas encabeçadas por ruralistas para mudanças no Código Florestal?
Graça Amorim –
Não precisamos mexer no Código Florestal Brasileiro para fazer agricultura familiar. O código dá conta das necessidades do Brasil. Precisamos apenas de pequenos ajustes, não dessa sangria desatada que a bancada ruralista está propondo. O Estado brasileiro também não implementou a lei como devia, não deu a devida publicidade e não internalizou debates sobre o assunto. Quem esculachou o código, quem fez pecuária, quem desmatou a Amazônia foi a bancada ruralista. As mudanças que eles propõem são, inclusive, para aumentar o desmatamento na Amazônia, no Cerrado, no Brasil. O código de Santa Catarina foi um desastre. O estado sofreu aquele acidente por falta de prevenção e preservação. Estamos preocupados porque alguns agricultores familiares estão comprando gato por lebre e achando que mexer no Código Florestal fará a agricultura familiar se consolidar. Não é por aí.

Quais seriam esses pequenos ajustes? Como resolver casos de pequenos produtores com terrenos bloqueados pela existência de nascentes, rios e afins?
Graça Amorim –
Precisamos de uma política que garanta a sobrevivência de famílias próximas a áreas de conservação. Hoje há muita limitação. Culturas e conservação podem se adequar, por exemplo com a apicultura e outras atividades. Obviamente não precisamos diminuir áreas de conservação. Agricultura familiar pode conviver em harmonia com o meio ambiente. Sobre a água, é possível se buscar alternativas de produção adequadas às realidades das áreas ocupadas.

Quais são as reais necessidades dos pequenos produtores brasileiros?
Graça Amorim –
Entendemos que o estado deve investir em tecnologia para sustentabilidade, educação, formação técnica, reforma agrária. Há espaço e oportunidade no país para se potencializar a reforma agrária. Precisamos de oportunidade, não precisamos degradar o meio ambiente para fazer agricultura, isso é coisa do passado. Ainda há uma distância muito grande entre as políticas de Estado e as necessidades da agricultura familiar. Se degradarmos hoje, pagamos a conta amanhã. Isso não é Filosofia.

Pequenos produtores respondem por quanto da produção de alimentos no Brasil?
Graça Amorim –
Os últimos estudos mostram que entre 78% e 82% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, nas cidades, vêm da agricultura familiar. A grande produção baseada em monoculturas não fica no Brasil.

Leia também

Reportagens
25 de novembro de 2024

Resultado da COP29 coloca diplomacia brasileira à prova

Em 2025, Brasil precisará pressionar nações por um novo financiamento climático. Meta aprovada na COP de Baku é 23 vezes menor que subsídios aos fósseis

Colunas
25 de novembro de 2024

A missão do Brasil para a COP30

O país anfitrião da COP30 precisa integrar de forma qualificada suas crianças e jovens para liderar a pauta climática

Notícias
25 de novembro de 2024

Gás natural que será exportado ao Brasil viola direitos indígenas na Argentina

MME assinou memorando para viabilizar importação de gás extraído em Vaca Muerta e responsável por problemas ambientais e de saúde em região habitada pelo povo Mapuche

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.