Reportagens

No Brasil será mais quente

Novos dados produzidos pelo Centro Hadley e INPE mostram que impactos do aquecimento global podem ser 20% maiores no Brasil. Chuvas diminuirão na Amazônia e no rio São Francisco.

Gustavo Faleiros ·
11 de dezembro de 2009 · 15 anos atrás
 

O Centro Hadley de Meteorologia do Reino Unido, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) lançou nesta sexta-feira em Copenhague, durante a 15a Conferência do Clima  sobre Mudanças Climáticas, novos dados sobre os impactos do aquecimento global em território brasileiro. De acordo com modelo construído com os dados das duas instituições, o aquecimento no Brasil poderá ser 20% maior que a média mundial durante o século XXI. Isso significa, por exemplo, que se o planeta tiver uma alta de 1,8oC na temperatura, a resposta no Brasil será 2oC. Pode parecer pouco, mas basta lembrar que o mundo já se aqueceu 0,7oC nos últimos 50 anos.

A conclusão é assustadora e reforça as previsões de que o país está no mapa das nações vulneráveis à mudança do clima. Um simples aumento de 2oC nos termomêtros afetaria fortemente o regime de chuvas nas principais Bacias Hidrográficas do país. No mesmo relatório – “Alterações climáticas no Brasil: o futuro” – os pesquisadores britânicos e brasileiros mostram que as chuvas seriam reduzidas em 15% na Bacia do São Francisco e 12% na Bacia Amazônica. Por outro lado, haveria um aumento de 2% nas chuvas na Bacia do Prata.

Na imagem acima, as projeções mostram um quadro ainda mais dramático, com aumentos de temperatira que podem chegar até 6,6oC, algo que está dentro da gama de possibilidades já levantada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Neste caso a diminuição de chuvas na Amazônia e na calha do São Francisco pode ser de 40% e 47%, respectivamente.

Os impactos destas mudanças devem ser observados, por exemplo, no setor de geração de energia, onde 70% do suprimento são obtidos com hidrelétricas. Mais do que isso, o estudo abre uma grande dúvida sobre o futuro do rio São Francisco. Foi ali que os cientistas previram a maior queda nas chuvas. O rio já está debilidado e parte de suas águas serão retiradas no projeto de transposição.

Richard Betts, pesquisador do Centro Hadley que coordenou o estudo em parceria com Carlos Nobre e José Marengo do INPE, afirma que os resultados mostram um quadro preocupante para o Brasil. “Nosso papel é melhorar o entendimento destas relações”.

Ele reforçou o papel do combate ao desmatamento para garantir mais resistência do Brasil às mudanças do clima. “A cobertura de vegetação tem um papel muito importante no clima. As florestas fazem uma espécie de reciclagem da chuva, devolvendo a a umidade na atmosfera. É a evaporação das árvores, que reforça a cobertura de nuvens e provoca mais chuvas. Se a floresta é desmatada, também vai diminuir o volume de chuvas. A remoção das florestas pode afetar regiões muito grandes”, ponderou

  • Gustavo Faleiros

    Editor da Rainforest Investigations Network (RIN). Co-fundador do InfoAmazonia e entusiasta do geojornalismo. Baterista dos Eventos Extremos

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