Nessa semana que passou foram anunciadas as Sete Maravilhas Naturais do Mundo. Uma bela lista que inclui Iguaçu, Amazônia, Montanha da Mesa e Komodo. O Brasil emplacou dois de sete, não está mal. Mas o que mostra esse resultado? Absolutamente nada. As localidades foram escolhidas por votação popular em que, inclusive, a mesma pessoa podia sufragar duas vezes o mesmo lugar. É como perguntar aos torcedores qual é o melhor time do Brasil. Independente do fato do Campeão brasileiro atual ser o Fluminense, a votação vai sempre dar Flamengo. Bacana, espelha o amor dos eleitores pela causa eleita, mas pouco ou nada diz sobre a supremacia incontestável dos escolhidos sobre os demais. No caso das Sete Maravilhas Naturais do Mundo, muitos votantes jamais sequer sujaram as botas nas trilhas dos Parques por eles escolhidos. Mais do que isso, ignoram por completo a existência de outros lugares de esplêndida beleza que certamente poderiam constar da lista.
Um exemplo do que falo fica na Eslováquia. O pequeno país europeu tem 36% do seu território coberto por florestas. Só Suécia e a Áustria possuem maior parcela de suas áreas sob cobertura natural. Na Eslováquia há 10.000 km2 de áreas protegidas, sendo nove Parques Nacionais e 16 unidades de conservação de outras categorias. Todos os Parques Nacionais do País têm uma beleza ímpar e poderiam facilmente constar da “maravilhosa” lista séptupla. Dois deles inclusive são Patrimônios Mundiais da Humanidade. Um terceiro atende pelo singelo nome de Paraíso Eslovaco.
Slovenski Raj, como é chamado no idioma eslovaco, encontra-se oficialmente protegido desde 1964. Foi elevado à categoria “parque naciona”l em 1988. Ocupa uma área de 19.763 hectares com uma zona de amortecimento de outros 13.011 hectares. Em seu território vicejam 930 espécies de plantas vasculares, sendo seis endêmicas da Eslováquia. Ali também vivem cerca de quatro mil espécies de invertebrados, incluindo duas mil espécies de borboletas (17 endêmicas ao Parque), 400 espécies de moluscos e 150 espécies de insetos. Por fim, perambulam, rastejam, nadam e voam no Paraíso Eslovaco 200 espécies de vertebrados, entre os quais sobressaem o urso europeu, o lince, o lobo e o javali.
Mas o Paraíso não são as espécies que lá vivem, e sim o próprio sítio geográfico que as abriga. A unidade de Conservação protege uma cadeia de canyons profundos e estreitos, alguns correndo entre paredes verticais de 400 metros de desnível. Geólogos acreditam que alguns desses canhões foram formados com o colapso dos tetos de cavernas de calcáreo há milhões de anos. Fato é que mover-se ali até recentemente era muito difícil, já que não há praticamente onde construir estradas ou abrir trilhas. No inverno, contudo, os leitos dos rios congelam e as cachoeiras se solidificam. Aos poucos, aventureiros de esqui de fundo começaram a adentrar os vales e explorar os recônditos profundos dessa maravilha não eleita.
As notícias que trouxeram das belezas encontradas geraram pressão no Serviço de Parques Nacionais eslovaco que, após a declaração da Unidade de Conservação, começou a desenvolver um complicado sistema de trilhas para franquear o Slovenski Raj à visitação também no verão, quando a temperatura nos apertados canyons oscila entre 12 e 14 graus centígrados. Hoje é possível cabritar 326km de trilhas sinalizadas e habilitadas (e põe habilitadas nisso!).
Entre elas destacam-se a trilha do canyon Prielom Hornádu, cujos 16 km de extensão são fáceis de percorrer e o trecho do Paraíso cortado pela trilha Csta Hrddinov SNP (trilha dos Heróis da Libertação Nacional Eslovaca) que, no total, tem 762 km de comprimento e corta a Eslováquia ao meio.
Entra pouca luz nas profundezas do paraíso. As beleza naturais são difíceis de registrar em fotografias. Tão ou mais importante que a obra de Deus, contudo, é o esforço de manejo em uso público levado a cabo pelos gestores do Parque Nacional de Slovenski Raj. As obras de arte construídas ao longo de canhões apertados são um prodígio da engenharia de trilhas, que o Brasil deveria estudar de muito perto se um dia realmente levar a sério um projeto de uso público de suas unidades de conservação. As trilhas são sinalizadas com cores pintadas nas pedras e árvores e se utilizam de um complicado e bem engendrado sistema de pontes, escadas e plataformas fincadas nas rochas.
Por isso mesmo deixo aqui meu voto no Parque Nacional Slovenski Raj para uma das “Sete Maravilhas do manejo de trilhas em Unidades de Conservação”. Pelo andar da carruagem, é uma mera questão de tempo até que alguém organize essa votação com toda a pompa e circo midiático a que eventos dessa ordem fazem jus.
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