Reportagens

História de Pescador

Ajudando pequenos pescadores a criarem peixes nativos do Paraná, Itaipu busca aliados na conservação do reservatório, melhorando a vida de seus vizinhos.

Sérgio Abranches ·
11 de fevereiro de 2005 · 20 anos atrás


O projeto Pescador Aqüicultor, coordenado por Aldérico, estimula o cultivo de peixes como alternativa de melhoria de renda aos pescadores. A empresa distribui tanques-redes, gaiolas submersas, para que os pescadores criem pacus em cativeiro, para engorda e comercialização. Já foram atendidos 256 pescadores, 56 em 2003 e 150 em 2004. A previsão é que mais 100 sejam incluídos em 2005, já previstos no orçamento da empresa. A meta é alcançar 500 famílias até 2006. São dados dois tanques-rede por família, com capacidade de produção de 240 peixes cada, e os alevinos, “juvenis”, pois são entregues já com tamanho mínimo, o que reduz o risco e aumenta a produtividade dos tanques. A idéia é que os pescadores experimentem a nova modalidade. Se gostarem, podem adquirir mais tanques-rede, por meio de linhas de crédito facilitadas do Banco do Brasil, intermediadas por Itaipu. No refúgio ecológico da hidrelétrica, técnicos em piscicultura pesquisam a engorda de outras espécies com boa aceitação no mercado, para repassar aos pescadores. O investimento, incluindo aquisição dos tanques-redes e a doação dos juvenis, que é permanente, apoio técnica e assistência ao produtor, já chegou aos R$ 500 mil e deve passar de R$ 1 milhão até o final do ano que vem.

Segundo a empresa, o reservatório, de qualquer forma, seria o mais produtivo da bacia do rio Paraná, com suas 170 espécies de peixes e uma produção pesqueira anual de 1,6 mil toneladas.


Não vi cuidados ambientais adicionais na visita aos pescadores. Nota-se, por exemplo, a ausência de orientação com relação à higiene na produção do alimento para os peixes. Não vi sinais de apoio aos pescadores na melhoria de suas casas, principalmente, com relação a fossas estanques ou outra modalidade de tratamento, para evitar a contaminação do reservatório.

A família que visitamos é um símbolo do sucesso do projeto, na visão do seu coordenador: “São três gerações, os filhos dão duro no negócio da família. E isso numa época em que os jovens estão indo embora, saindo de casa”. Seu Sebastião Batista Braga, tem 86 anos. Olmiro Voguel, seu genro, e sua mulher, Dionísia Vogel, têm 58 anos. Os filhos, 21 e 19 anos. Todos demonstram contentamento e entusiasmo, com a nova maneira de tirar o sustento da pesca.


Eles gostaram da experiência com os dois tanques e já compraram mais 21. Com a receita dos 23 tanques, com capacidade total de produção de 5,5 mil peixes a cada seis meses, pagam o financiamento do Banco do Brasil e ainda dá para viver um pouco melhor do que antes. Os sinais de melhoria de vida estão estampados no rosto da família de seu Sebastião e nas tábuas novas da casa melhorada. Aldérico está convencido de que se eles se organizarem direito em cooperativas, podem chegar, até, ao mercado externo. “’E produto de qualidade, para a elite”, diz. Seu Sebastião não gosta muito da conversa sobre cooperativa. “Com aquele presidente lá, eu não entro na cooperativa não”. Aldérico concorda que há problemas com a gestão de algumas cooperativas. Mas, “dirigente que não tem orientação gerencial e não cuida dos interesses comerciais dos cooperativados, não tem mais espaço”, acredita. De qualquer forma, sugere a seu Sebastião que formem uma outra cooperativa, com os vizinhos.

Aldérico chega a se emocionar com os resultados já obtidos: “É muito bom trabalhar em algo que dá certo e você vê, imediatamente, o resultado na melhoria da qualidade de vida deles. É como eu digo, é tudo muito bom e ainda me pagam para fazer isto”. Dois deles se preparam para pegar a canoa e levar o alimento da tarde para os peixes, com todo o jeito de que também acham que está dando certo.

  • Sérgio Abranches

    Mestre em Sociologia pela UnB e PhD em Ciência Política pela Universidade de Cornell

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