Emissão de CO
No dia 25, o Inpe estimou que 41.741 toneladas de Monóxido de Carbono (CO) foram emitidas por queimadas e fontes urbano/industriais no Tocantins. Em agosto, foram 1.048.968 toneladas. |
Palmas – Sem chuva há mais de 120 dias e com temperatura máxima de 38 graus – dois a mais que o registrado em 2009 – o Tocantins arde nas chamas de mais de 5.6 mil focos de fogo detectados somente no mês de agosto. O número quadruplicou em relação ao mesmo período de 2009, que teve 1.071 focos. A área mais atingida é o Parque Nacional do Araguaia (PNA), que dos seus 562,3 mil hectares (ha), quase 240 mil já foram consumidos pelas queimadas, segundo estimativas mais recentes, considerando imagens de satélite.
No dia 25, uma estratégia de guerra contra o fogo foi montada na Ilha do Bananal, maior ilha fluvial do mundo, com 1.916.225 ha – sendo um quarto pertencente ao parque. “É uma situação muito crítica. O fogo atingiu a ilha de forma surpreendente e devastadora”, contou o coordenador regional da Fundação Nacional do Índia (Funai), Clésio Fernando Moraes, depois de percorrer a região destruída pelas labaredas que avançam em velocidade impressionante.
A situação, que culminou na destruição de 45% da Ilha, está sendo controlada com a chegada de 50 militares do 22º Batalhão do Exército, junto às outras frentes de combate formadas por 50 brigadistas do PrevFogo (Ibama), 40 homens do Corpo de Bombeiros e 15 indígenas. A equipe atua no quadrilátero do fogo construído pelos municípios de Lagoa da Confusão e Formoso do Araguaia, no Tocantins, e São Felix do Araguaia e Santa Isabel, no Mato Grosso.
Dois helicópteros, dois aviões e um caminhão estão operando no combate. Coordenadores da campanha esperam eliminar o último foco nos primeiros dias de setembro.
Sem chuvas, fogo deve aumentar
Ao todo, 20 municípios tocantinenses estão na lista do decreto nº 4.144, assinado no dia 19 de agosto pelo governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB). O documento declara situação de emergência no Estado em função das queimadas, baixa umidade do ar atmosférico – que já chegou a 11% – e outros danos ambientais causados pelas altas temperaturas e clima seco. A água já dá sinal de escassez, principalmente na região sudeste do estado.
Segundo o decreto, o fogo já teria consumido 66% da área do Parque Estadual do Lageado, 65 mil ha do Corredor Ecológico do Jalapão (Parque Estadual Serra Geral) e 35 mil ha da Estação Ecológica Instituto Chico Mendes, além do grande incêndio no PNA, que faz limite com o Parque Estadual do Cantão, que também foi atingido pelas queimadas.
O coordenador-geral de Proteção Ambiental do Instituto Chico Mendes (ICMbio, órgão do Ministério do Meio Ambiente) declarou que se tratando das Unidades de Conservação (UCs), a situação do Tocantins é a mais preocupante. O Estado é segundo na lista dos brasileiros que mais sofre com as queimadas, perdendo apenas para Mato Grosso. De acordo com o PrevFogo regional, imagens de satélite denunciam o surgimento de novos focos que tende a aumentar nos próximos dias. A previsão, feita pelo Núcleo Estadual de Meteorologia e Recursos Hídricos (Nemet– RH), anuncia que as chuvas só devem molhar as terras tocantinenses em outubro.
Nas margens do Araguaia, o maior incêndio
A região que faz divisa com o Pará, terra dos índios Javaé e Karajá, é a que mais sofre com o fogo. Segundo dados do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), nos dias 21 e 22 de agosto foram 1.293 focos de incêndio. No dia 26, imagens de satélite confirmaram 544 focos, que atingiu inclusive as aldeias indígenas.
“Fomos pegos de surpresa, pois historicamente estes incêndios acontecem na segunda quinzena de agosto. É a primeira vez que acontece em julho”, lembra Fernando Tizianel, chefe do Parque Nacional do Araguaia – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodversidade (ICMBio).A região que faz divisa com o Pará, terra dos índios Javaé e Karajá, é a que mais sofre com o fogo. Segundo dados do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), nos dias 21 e 22 de agosto foram 1.293 focos de incêndio. No dia 26, imagens de satélite confirmaram 544 focos, que atingiu inclusive as aldeias indígenas.
A grande peculiaridade em xeque no parque é a inusitada mistura do gigantismo da floresta Amazônia com as belezas áridas do Cerrado. Importantíssimas, do ponto de vista científico, por ser uma zona de ecótono entre os dois biomas, as terras do PNA abrigam elementos que não são encontrados em nenhum outro habitat, muitos deles ainda desconhecidos. “O parque recebeu o título Sítio Ramsar, por ser uma zona úmida de relevância mundial”, acrescenta Tizianel. A fauna tem espécies comuns ao Pantanal Mato-Grossense, como a onça-pintada, boto, uirapuru, garça-azul e tartaruga-da- amazônia.
Criado em 1959, o PNA protege uma importante amostra das áreas inundáveis da planície do rio Araguaia, responsável pela reprodução de espécies aquáticas. Na região ocorre uma formação vegetacional exclusiva, denominada de ipuca.
“Estes fragmentos florestais (ipucas) que ocorrem no cerrado são extremamente peculiares, que só se constituem nas planícies. Quando queimadas, dificilmente conseguimos recuperá-las”, lamenta a professora e doutora em avaliação de impactos ambientais e recuperação de áreas degradadas da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Iracy Martis, que há 15 anos estuda o PNA.
Para ela, muitas espécies endêmicas poderão desaparecer. “Em conseqüência dessa transição, existem uma biodversidade muito própria do parque. É evidente que com a devastação do fogo muitas que inclusive já estão em risco de extinção, como várias espécies de veados, podem desaparecer”, afirma a pesquisadora.
De acordo com Tizianel, o ICMBio não possui estudos que especifique o impacto do fogo no parque, mas um plano de recuperação das áreas atingidas será traçado.
Peleja contra o fogo
Conter o fogo no Tocantins não é uma tarefa fácil. O Estado, que todos os anos arde consumido pelo fogo, não possui aeronaves que auxiliam o combate nas regiões mais inóspitas, sem estradas, e mesmo os focos próximos à zona urbana, como o ocorrido no início de agosto no Parque Estadual do Lajeado (com 15 dias de duração), há poucos quilômetros da capital Palmas, são difíceis de controlar por falta de transporte terrestre. Com queimadas por toda parte, as duas caminhonetes de combate florestal do Corpo de Bombeiros Militar são insuficientes.
No último dia 15, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, sobrevoou a Serra do Lajeado e constatou a precariedade com que os brigadistas combatiam as labaredas. Diante da incontrolável situação, ela anunciou o envio de aeronaves como parte do plano de ações que estaria sendo traçado para a contenção das chamas.
A intervenção do Exército na Ilha do Bananal faz parte desse plano. O presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Mello, expôs a situação caótica enfrentada pelos brigadistas no PNA. “Nós temos dificuldade muito grande de deslocamento, daí a necessidade de helicóptero que é utilizado pelas tropas, porque permite carregar os brigadistas de um lugar para o outro mais rapidamente. Lá na estação ecológica os brigadistas precisam andar 5 horas para chegar ao local, e eles chegam cansados e depois, como o fogo se alastra rápido, corre o risco de não ter mais o que apagar”, disse à ministra.
O governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB) busca financiamento junto ao Governo Federal, através do Fundo Amazônia e do BNDES, que forneceriam um incentivo aproximado de R$ 48 milhões (R$ 14 milhões de compensação pela preservação pelo Fundo e R$ 34 milhões de recurso pelo Banco) para a conservação do meio ambiente e a aquisição de todo o equipamento planejado.
Sobre 48 milhões
Segundo informações da assessoria de comunicação da Defesa Civil do Tocantins, dos R$ 48 milhões, R$ 14.324 milhões já foram contratados, e as aquisições de equipamentos devem iniciar-se em setembro. Com o valor, está prevista inicialmente a aquisição de 17 caminhões autotanque – para abastecimento das viaturas de combate a incêndio; 6 caminhões autobomba tanque; 22 embarcações náuticas de médio e pequeno porte; 22 viaturas de resgate (tipo SAMU) e 15 caminhões de busca e salvamento.
“Sobre a outra parte do financiamento, refere-se a viaturas autoescada e plataforma, para o combate de incêndio urbano, em locais altos, além de viaturas específicas para combate a incêndio florestal, que serão adquiridas nos próximos exercícios, já que se tratam de veículos importados”, disse a Defesa Civil através de nota.
Além destes, outros R$ 20 milhões, também oriundos do Fundo Amazônia, servirão para a aquisição de viaturas e equipamentos e duas aeronaves (um helicóptero e um avião).
*Leilane Marinho é repórter em Palmas (TO)
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