Rio de Janeiro – No dia em que o Rio de Janeiro enfrentou mais uma greve de ônibus (segunda-feira), o Centro de Convenções da Bolsa de Valores recebeu a abertura do seminário Sistemas Inteligentes de Transportes (ITS, na sigla em inglês), que terminou nesta terça-feira. A coincidência não poderia ser mais curiosa, já que a intenção do encontro era, justamente, levantar estratégias para otimizar a circulação de veículos nas vias do estado em vistas dos grandes eventos agendados para os próximos anos – em especial, é claro, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Embora interessantes, serão necessárias muitas mudanças estruturais para atingir as possibilidades trazidas pelos palestrantes.
A novidade do dia, no entanto, ficou por conta do anúncio de que, na última quarta-feira (26), começaria a rodar nas ruas da cidade o primeiro ônibus movido a biodiesel. De acordo com Waldir Peres, da secretaria Estadual de Transportes, o veículo desenvolvido pela Coppe/UFRJ vai rodar durante um ano. Após este período, serão analisados os benefícios alcançados, como a redução nas emissões de carbono, e também os possíveis problemas. Vale lembrar que o Comitê Olímpico Internacional (COI) assinou um contrato no qual exige biocombustível em 20% da frota de ônibus durante os jogos. “É uma possibilidade futura, e não imediata. Mas temos que mostrar a nossa capacidade. Os automóveis podem levar a uma esquizofrenia urbana”, disse.
Ainda longe do estado fluminense, ao menos em sua íntegra, o ITS abrange todas as áreas de mobilidade urbana, ao menos no que diz respeito a transportes motorizados. Paulo Cézar Ribeiro, engenheiro da Coppe e um dos organizadores do evento, explicou que o gerenciamento é uma das palavras-chave para a transformação do sistema. Isto significa, por exemplo, tornar o transporte público mais atrativo do que o privado, para que os usuários sintam maior benefício em deixar os carros na garagem.
Há diversos caminhos para alcançar este objetivo. Um deles é reduzir o atraso das pessoas, seja com a análise imediata de incidentes em vias expressas – e o acionamento de serviços apropriados, como bombeiros, emergência ou polícia –, o que ajuda a liberá-las em mínimo tempo, ou serviços de informação sobre os horários em que as linhas de ônibus passarão pelos pontos. A partir do GPS, que será obrigatório na nova licitação de veículos coletivos, é possível saber quantos passageiros há em cada um, quais os carros com problemas técnicos e assim por diante.
“O sistema semafórico é uma ajuda, porque reduz ou aumenta o tempo do sinal verde de acordo com a demanda, e deixa o trânsito fluir mais. O “ramp meeting”, por sua vez, regula o número de veículos que entra em determinada via, para que a sua capacidade máxima não seja suplantada nunca. Os carros também podem receber alternativas de rotas para que escolham a de menor congestionamento, e até os estacionamentos públicos podem enviar informações para os veículos se têm ou não vaga, fato que diminui a quilometragem rodada”, explicou Paulo Cézar.
Outro fato é que os carros parados no trânsito tendem a queimar mais combustível fóssil. Recursos para isto, existem. Basta que sejam bem empregados. De acordo com pesquisa do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, divulgada pelo Ministério das Cidades, 80% dos 100 bilhões de reais destinados para a preparação dos jogos olímpicos no país serão usados para projetos de mobilidade urbana.
Durante o seminário, outra boa notícia foi anunciada por Sergio Lobo, assessor do diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT): a criação de um Centro Nacional de Supervisão Operacional. A principal meta é ampliar o uso de ITS, através de Painéis Variáveis de Informação, para dar maiores informações sobre trânsito e situação das vias para os motoristas. A interligação entre os diversos tipos de transporte também foi um tema recorrente.
Embora a intenção seja positiva, não é a resposta para os problemas da mobilidade urbana. Pelo menos é o que pensa José Lobo, presidente da Transporte Ativo, organização da sociedade civil de apoio aos transportes movidos à propulsão humana. Para ele, é mais uma medida paliativa que pode, sim, ajudar, mas não resolve a raiz de um problema estrutural. Lobo concorda, porém, que se o transporte público for mais benéfico do que o particular, o fluxo vai ficar muito melhor.
“Acho super interessante, dá para solucionar diversos imbróglios, mas soluciona apenas por um determinado tempo. Primeiro, é muito difícil garantir que o ônibus chegará ao ponto na hora certa, em todos os dias. E sugerir rotas alternativas para os carros é ótimo, mas só até o momento em que todos a descobrirem. Aí, volta o problema. É preciso fazer uma integração dos transportes coletivos com a bicicleta, skate, patins”, finaliza.
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