Brasília – Esplanada dos Minístérios, 12 de maio de 2010. Eis o dia em que os servidores de vários órgãos de meio ambiente podem afirmar que, legalmente, entraram em greve geral. Em manifestação em frente à sede do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), funcionários do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) e do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) comemoraram a votação a favor da legalidade da paralisação.
A manifestação teve início às 10h e terminou cerca das 17h30m, quando foi anunciada decisão, por 5 votos a 3, a favor dos servidores. Desde terça, manifestantes de vários estados reúnem-se na sede do MMA para a entrega dos cargos de fiscal ambiental e servidores comissionados, em protesto às más condições de trabalho e reivindicando a reestruturação da carreira de especialista em meio ambiente. Uma lista com 581 fiscais e 164 servidores, entre cargos de chefia, fiscalização e coordenação, foi protocolada no gabinete da ministra Izabella Teixeira.
A greve dos servidores da área ambiental já se desenrola desde o dia 7 de abril, num movimento crescente que teve como precursor o estado do Mato Grosso e hoje abrange quase todos os demais estados do país. A força e proporção que tomou a greve nesses últimos dias têm explicação no fato de que o prazo final para mudanças orçamentárias, segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias, é 3 de junho. Já a pressa do governo é com relação às obras do PAC, que também estão paradas.
Licenciamento parado
Segundo o presidente da Associação dos Servidores do Ibama (Asibama) nacional, Jonas Moraes Corrêa, 58 operações foram interrompidas com a paralisação, inclusive obras de grande relevância, como a da Ferrovia de Integração Oeste-Leste e do Estaleiro de São Roque do Paraguaçu, além de prejuízos de R$ 6 milhões por dia para a Petrobras.
Para ele, a pressa do governo para liberação de processos é a maior fonte dos erros: “Uma coisa é o tempo político, outra é o tempo técnico, quando se faz um projeto atropelado, claro que surgem irregularidades. Imagina fazer a toque de caixa um projeto como Angra III. É inviável”. Corrêa afirma que os funcionários do órgão não estão lá para embargar nenhuma obra, mas para fazer uma gestão ambiental da melhor forma possível. Se não tiver contingente suficiente de técnicos competentes, os índices favoráveis conquistados até agora de desmatamento na Amazônia e no Cerrado, entre outras coisas, irão sofrer grande queda.
A associação afirma que o Ibama está perdendo muitos analistas, cargo crucial para o licenciamento ambiental, para outros órgãos como a Aneel, que oferece salário e condições melhores de trabalho. Os servidores acusam uma série de deficiências no planejamento e na atenção à carreira, incluindo a falta de serviços básicos de comunicação e higiene, como telefone e banheiro, em alguns postos de trabalho em unidades de conservação e áreas inóspitas do interior. Além disso, com as saídas dos servidores, o Ibama não deixa de ser responsável e a demanda de trabalho triplica.
Acordo à vista?
Em maio de 2008 foi firmado acordo entre o ministério do planejamento e a Asibama, que previa a criação de um Grupo de Trabalho para analisar a reestruturação da carreira e dos salários da categoria. Com a demora para a deliberação de novas propostas, ficou estabelecida greve geral na área em âmbito nacional, até novas configurações de mudança.
Os órgãos que aderiram à greve defendem que o acordo apresentado ao STJ pelo ministro Benedito Gonçalves está incompleto, por isso a greve é legal. Com a decisão favorável do STJ, o governo aceitou a negociação com os trabalhadores, mas sob a exigência de que os funcionários das áreas de fiscalização e licenciamento dos órgãos voltem a trabalhar. A multa de R$100.000 por dia foi mantida. Os servidores convocaram uma assembléia amanhã para decidir sobre a volta dos trabalhos e o fim da greve.
O Eco tentou ouvir a ministra Izabella Teixeira, mas foi informado por sua secretária que ela não poderia atender. Já a assessoria de comunicação do MMA comunicou que, dados os novos fatos, o ministério ainda não possui um posicionamento sobre da entrega dos cargos e das portarias.
*Nathalia Clark é repórter em Brasília
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