Acaba de começar a COP18, conferência do clima que vai debater a continuação de Quioto. Ao mesmo tempo, hoje foi divulgado e comemorado pelo governo o menor desmatamento da história na Amazônia Legal desde que a região começou a ser monitorada pelo INPE, em 1988. Segundo estimativas do Prodes, foram desmatados 4.656 quilômetros quadrados de floresta no período que vai de agosto de 2011 a julho de 2012, uma queda de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Estaria tudo muito bem, não fosse o crescimento dos números dos últimos 3 meses. Os dados de hoje, do Prodes, são anuais e bastante precisos, mas refletem o passado. Desde agosto desse ano, os dois principais sistemas de alerta mensal de desmatamento na Amazônia, o Deter, do Inpe, e o SAD, do Imazon, mostram uma inflexão para cima do desmatamento. Mais que isso, apontam uma disparada.
O Deter detectou um aumento de 220% em agosto e de 10% em setembro, comparados aos mesmos meses de 2011. Quem divulga esses números é o Ministério do Meio Ambiente (MMA), que calou sobre o valor de outubro, que certamente já foi calculado pelos técnicos do Inpe e já deveria ter sido divulgado pelo MMA.
Independente de decisões políticas estratégicas, a ONG Imazon divulgou um aumento de 377% no desmatamento de outubro. O governo escolheu a informação boa para divulgar nesse início de COP18, mas adiou a divulgação de mais um provável número ruim do Deter de outubro.
O Deter e o SAD são sistemas menos precisos. Entretanto, mudanças de tal magnitude, detectadas por dois sistemas independentes devem estar indicando a tendência correta: aumento do desmatamento desde agosto.
O governo mostra o que é bom, mas esconde o que o número do Deter de outubro. É tal a aceleração detectada nos últimos três meses, que celebrar o passado perde brilho dado o futuro que começa a tomar forma para 2013.
Essa é a segunda vez no ano que o MMA atrasa a divulgação dos dados do Deter. Na ocasião anterior, ficaram retidos por quatro meses, de abril a julho. Consultado, o Ministério do Meio Ambiente respondeu através de sua assessoria de imprensa, que os dados de outubro serão divulgados ainda nesta semana. É aguardar e cobrar.
Repercussão em Doha Os números do Prodes foram comemorados pelos negociadores brasileiros no Qatar, onde está acontecendo a 18ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudanças do Clima, já que revelam que o Brasil atingiu 76,27% dos 80% do desmatamento que se comprometeu a reduzir na Amazônia até 2020. Esse compromisso faz parte da Política Nacional sobre Mudança do Clima, instituída pela Lei 12.187/2009, que firmou o compromisso nacional voluntário de reduzir entre 31,6% e 38,9% as emissões projetadas de gases de afeito estufa até 2020.“É a menor taxa de desmatamento da história. Tem o grande marco que é jogar o desmatamento abaixo dos 5 mil km²”, comemorou a Ministra Izabella Teixeira. “Ouso dizer que esta é a única boa noticia ambiental que o planeta teve este ano do ponto de vista de mudanças do clima. Em relação aos compromissos de metas voluntárias de redução de emissões estamos bastante avançados”.
O levantamento do PRODES registra áreas superiores a 6,25 hectares onde ocorreu corte raso, a remoção completa da cobertura florestal. Essa é a primeira estimativa. Os números consolidados serão conhecidos no ano que vem. Para gerar a estimativa, o INPE analisou imagens das regiões onde se concentra 90% dos desmatamentos ocorridos no período anterior (agosto/2010 a julho/2011) e nos municípios que estão na lista de campeões de desmatamento.
A margem de erro da estimativa é de 10% para cima ou para baixo. Mesmo quando somados a estimativa atual com a margem de erro, a taxa de desmatamento continua sendo a menor da história. Ela subiria de 4.656 km² para 5.121 km² de desmate. No ano passado, foram desmatados 6.418 quilômetros quadrados.
Divisão por estados
Dos 9 estados que compõem a Amazônia Legal, 3 apresentaram crescimento no desmatamento: Tocantins (33%), Amazonas (29%) e Acre (10%). O Estado do Pará apresentou queda de 44% do desmatamento, mas continua sendo o campeão no tamanho da área, com uma área de 1, 7 mil km² desmatados.
Segunda a ministra Izabella, ainda não dá para saber quantos desse desmatamento é criminoso: “Como os Estados ainda não tornam disponíveis as informações do que é legal e do que é ilegal, não conseguimos identificar quanto do aumento desse desmatamento está associado a incremento de infraestrutura e de supressões legais”, afirmou.
* Matéria editada em 28/11/2012 às 11h15
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