Rio de Janeiro – Durante um ano, o documentarista carioca Belisário Franca e sua equipe de filmagem percorreram os rincões da Amazônia. Eles mapearam 9 projetos nos estados amazônicos que conseguem aliar uma forma de renda à preservação da natureza. O trabalho resultou no documentário Amazônia Eterna (87 minutos), que foi exibido na Rio+20 e, neste último dia 9 de outubro, estreou no Festival do Rio.
Na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no município de Santarém, a mais de mil quilômetros de distância da capital Belém do Pará, numa floresta densa com palmeiras de 30 metros de altura, artesões locais desenvolvem um projeto de recuperação e reutilização da madeira. Esta é uma das poucas unidades de uso sustentável que tem um plano de manejo consolidado nos 600 mil hectares de área verde onde habitam cerca de três mil famílias. A reserva é rica em madeiras como sucupira, macacauba, ipê roxo e amarelo.
No Pará também fica a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu, formada por descendentes de japoneses que plantam a pimenta do reino, tida como o “diamante negro” da Amazônia, além de processar frutas frescas e produzir polpa de frutas tropicais, como o cacau, o cupuaçu e o açaí, através de sistemas de agricultura sustentável .
Imagine o manejo da pesca do pirarucu, um dos maiores peixes encontrados nos rios amazônicos, podendo atingir mais de 2 metros e pesar 130 kg. Os ribeirinhos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amaná, próximo aos municípios de Tefé e Alvarães no Amazonas, desenvolvem a pesca sustentável do pirarucu nos lagos do Pantaleão, um complexo soma 16 mil hectares em 23 lagos. Cerca de um terço da população do pirarucu não é pescada para garantir a sobrevivência do “bacalhau da Amazônia”.
“Esse filme parte de uma pergunta que a gente discute planetariamente: como a economia e a ecologia podem andar juntas? Quem tem a resposta é quem vive lá, as populações indígenas que vivem há milhares de anos e ribeirinhos há centenas de anos. Essas pessoas tem profundo conhecimento”, disse Belisário, diretor de Amazônia Eterna, a ((o))eco.
O filme abarca extração artesanal da borracha na Resex do Médio Juruá, na comunidade Carauari, no Amazonas; projetos de redução de pegada de carbono; manejo florestal em alta escala, feito pelo Grupo Orsa Florestal em território de 500 mil hectares entre Pará e Amapá; e ainda pecuária de alta tecnologia em Paragominas, o primeiro município a sair da lista negra do desmatamento por gado ilegal. Por fim, Amazônia Eterna mostra o projeto Rios Voadores, que monitora a evapotranspiração das árvores responsáveis pelo regime de chuvas na América do Sul.
“Existem 25 milhões de pessoas que vivem hoje na Amazônia brasileira, que ocupa 60% do território nacional. O filme foi feito com eles e para eles que contam a sua história”, diz Belisário.
Com um orçamento de R$ 3 milhões, a equipe de filmagem passou por 16 municípios nos meses de junho, setembro e novembro de 2011. A bela fotografia conduz o espectador por esse mergulho na Amazônia profunda.
Cerca de 40 pessoas foram entrevistadas para o documentário, entre elas, especialistas como o economista Carlos Young da UFRJ, a geógrafa Bertha Becker da UFRJ, o ex-presidente do IBGE e ambientalista Sergio Besserman, além de representantes do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e entidades como IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Imazon, FAS (Fundação Amazônia Sustentável) e ISA (Instituto Socioambiental). Mas os principais atores são os seringueiros, madeireiros, pecuaristas, empresários, indígenas e ribeirinhos.
Segundo Belisário, a experiência do filme é sensorial. O espectador vai se sentir ao lado dos ribeirinhos e com o pessoal que faz o trabalho de recuperação das madeiras na floresta, garante.
Amazônia Eterna tem previsão para chegar às salas de cinema no primeiro semestre de 2013. O documentário já tem também distribuição garantida na França e na Alemanha.
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