Notícias

Nova espécie indica relação entre cerrado e restingas

Espécie de roedor foi descrita no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no norte do litoral fluminense. Surpreendentemente, o gênero é típico da savana brasileira.

Vandré Fonseca ·
12 de julho de 2011 · 13 anos atrás
Ratinho-goitacá é o maior do gênero Cerradomys, que inclui outras seis espécies. Crédito foto: Divulgação
Ratinho-goitacá é o maior do gênero Cerradomys, que inclui outras seis espécies. Crédito foto: Divulgação
Um nova espécie de roedor foi descrita no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba,  no norte do litoral fluminense, o Cerradomys goytaca, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRR). A descoberta foi publicada na revista científica Journal of Mammalogy, pelos pesquisadores William Correa Tavares, Leila Maria Pessôa e Pablo Rodrigues Gonçalves. O gênero Cerradomys, como o nome indica, é típico do cerrado. Por isto os pesquisadores querem conhecer melhor a relação entre as áreas de savana no interior do país e a restinga no litoral.

“A restinga sempre foi considerada um ambiente da Mata Atlântica”, afirma o biólogo Pablo Rodrigues Gonçalves, doutor em Zoologia e professor do Campus Macaé, da UFRJ. Mas, como ele destaca, existem outras espécies típicas de áreas mais abertas, com cactus, encontradas na restinga e que não existem na Mata Atlântica. “Possivelmente em algum tempo passado, quando o clima era bem diferente de hoje, existiu alguma conexão entre o cerrado e a restinga, quando a espécie ancestral se dispersou para o litoral”, completa.

O corpo do ratinho-goitacá mede em torno de 14 centímetros (30 centímetros até a ponta da cauda) e tem pelagem característica do gênero, amarelada, com ventre branco e acinzentado ao redor dos olhos. Já a cauda bicolor, com a parte superior escura e a base branca, é característica da espécie descrita na restinga. Gonçalves afirma que o C. goytaca é o maior do gênero e possui também diferenças no crânio em relação aos parentes do gênero.

O presença do bicho na região já era conhecida, mas  se pensava que era a mesma espécie encontrada no interior do país. Há até pouco tempo, era descrita apenas uma espécie do gênero Cerradomys, que só existe na América do Sul. Hoje, são conhecidas sete espécies. Estudos morfológicos e genéticos comprovaram que o C. goytaca é uma espécie diferenciada.

O ratinho-goitacá tem hábitos noturnos. Durante o dia, permanece no ninho e à noite sai para se alimentar de frutos e sementes. O principal item do menu deste roedor é o fruto da Juruba, uma palmeira rasteira, conhecida também como guriri, que tem caule subterrâneo. Ele é um dispersor de sementes, já que 2% dos frutos que ele pega são enterrados no chão, e muitos acabam ficando por lá mesmo. Mas é um animal que está na base da cadeia alimentar, e é presa de aves de rapina, como corujas, e carnívoros, como o cachorro-do-mato.

A restinga, habitat do bicho, é um ambiente sob pressão de obras de infraestrutura, voltadas principalmente para a exploração de petróleo no litoral e na camada pré-sal, e pela especulação imobiliária. O Parna de Jurubatiba, com cerca de 40 mil hectares, é uma das poucas áreas protegidas onde vive o ratinho. “Se não fosse o Parque Nacional, ele estaria fadado a ser extinto”, sentencia o Pablo Gonçalves.

{iarelatednews articleid=”1680,10961,24976″}


Leia também

Reportagens
4 de dezembro de 2024

‘Máquina de nuvens’: emissões da floresta amazônica e descargas elétricas produzem partículas de chuva

Estudo publicado na Nature demonstra mecanismo que faz isopreno – um gás liberado pela vegetação – gerar grandes quantidades de aerossóis, responsáveis por formar núcleos de condensação; processo pode ter influência no clima global

Análises
4 de dezembro de 2024

Como a SPVS trabalha para educar e transformar a realidade ambiental no Paraná e no Brasil há 40 anos

Ciente de que a crise global em relação ao meio ambiente é, acima de tudo, uma crise educacional, instituição se dedica a trabalhar para mudança de mentalidades e cenários há mais de quatro décadas

Salada Verde
4 de dezembro de 2024

Votação da PEC das Praias é adiada após pedido de vista coletivo de governistas

Pautada para votação em reunião de hoje da CCJ do Senado, proposta volta à fila; não há data definida para nova apreciação

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.