Nathália Clark
![]() |
Ainda falta decidir sobre a relatoria na terceira comissão pela qual o projeto de lei passará, a de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). O nome cotado é o do senador Acir Gurgacz (PDT-RO), presidente da CRA.
O texto final do Projeto de Lei aprovado na semana passada na Câmara dos Deputados chegou ao Senado Federal na quarta-feira (1). A proposta passa a tramitar nessa instância com o número PLC 30/2011. Depois de lido em Plenário, o projeto será encaminhado para as Comissões, não estando ainda definido qual dos colegiados examinará primeiro a matéria.
Viana disse na primeira reunião de trabalho com o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), presidente da CMA, que o momento é de ouvir pessoas com conhecimento da matéria: “Vamos começar pela comunidade científica, em busca de avaliações embasadas, desprovidas da emoção que o tema da preservação ambiental provoca”.
De acordo com ele, a comissão deverá ouvir, além do relator do projeto na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e da comunidade científica, juristas com especialização em Direito Ambiental. A CMA tem a responsabilidade de analisar o mérito da proposta, e a tendência é que, por isso, Viana seja também o relator da matéria no plenário.
Histórico dos relatores
Jorge Viana é ex-governador do Acre, estado do qual esteve à frente por oito anos (de 1999 a 2006), quando batizou sua gestão de “governo da floresta”. Petista, o senador também é visto como um interlocutor seguro com o Palácio do Planalto.
De acordo com um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) feito à época, nos seis primeiros anos de seu governo, o Acre desmatou quase 5.000 km², o equivalente a mais de três cidades de São Paulo. A devastação aumentou 42% no período.
Para Mauro Armelin, coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil, o que diz o estudo diverge em metodologia com os dados obtidos pelo governo à época: “O que acontece é que 80% do desmatamento no Acre ocorre em pequenas propriedades e pequenos polígonos, que são bastante difíceis de detectar. Isso não significa que ele seja pró-desmatamento”.
Já Luiz Henrique é ex-governador de Santa Catarina. Durante seu mandato, ele chegou a sancionar uma versão estadual da norma que agora é debatida no Congresso. O Código catarinense, que acabou embargado por questionamentos na Justiça, previa apenas 5m de faixas de vegetação nas margens de córregos com 5m de largura, enquanto que o de Aldo Rebelo ainda manteve os 30m de preservação.
O senador peemedebista é visto como favorável a propostas como a da Emenda 164, que dá aos Estados maior poder na legislação ambiental, no que diz respeito à definição de regras sobre cultivo em Áreas de Preservação Permanente e limitações de Reserva Legal.
Encaminhamentos
Está agendada para a próxima quinta-feira (9), às 11h, uma audiência pública conjunta da CRA e da CMA para discutir as alterações no código com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A decisão de reunir as duas comissões para audiência tem como objetivo contribuir para um entendimento em torno da matéria, que transitou pela Câmara dos Deputados em meio a muita controvérsia. A idéia é elaborar um relatório conjunto do projeto.
Adriana Ramos, secretária executiva adjunta do Instituto Socioambiental (ISA): “Acho complicada a indicação do Luiz Henrique, pois ele tem uma visão que reproduz a tentativa de descaracterização da legislação ambiental. Isso sinaliza uma proposta de não valorização do Código. Já o Jorge é reconhecido dentro do PT, tem diálogo aberto com diferentes segmentos da sociedade. Apesar de levantar a bandeira da floresta, ele não deixa de lidar com o setor empresarial. O fato de ele não ser identificado só com os ambientalistas é bom para não causar impressão de extremismo. Creio que ele tem todas as condições de fazer um bom relatório. Além de tudo, é engenheiro florestal de formação e conhece a realidade da Amazônia. Só espero que o relator da Comissão de Meio Ambiente seja o relator do mérito da proposta, e tenha a prerrogativa no Plenário. Isso, talvez, seja o mais importante, pois o Código é para o meio ambiente, não para a agricultura.” O Luiz (Henrique) já deu declaração de que a lei de SC seria seu mote para rever o projeto do Código. Se isso se concretizar em texto, ele não fará nada de diferente do que os ruralistas fizeram na Câmara. O principal é que há muito trabalho pela frente. Um deles é pedir análises jurídicas e econômicas sobre o texto, considerando todos os fatores, inclusive os compromissos do Brasil e o mercado agrícola mundial. Devem ser traçados cenários e os impactos devem ser medidos. Na Câmara foi feito um trabalho eleitoral, não com métodos. E o momento de fazer os estudos é agora, pois quando a primeira comissão alterar o texto, a matéria deve sair de pauta.” O trabalho unido das comissões na construção de um relatório conjunto pode dar certo. Além disso, ele é engenheiro florestal e entende a necessidade da Amazônia. O papel da sociedade civil agora é pressionar, tanto a ele quanto aos outros, para que não se deixem render pelas pressões. E o papel do Senado é encontrar entre os três relatores qual será mais qualificado para assumir o mérito no plenário. Com o seu conhecimento, o Jorge pode sair na frente.” |
Veja também:
Morre Zé Cláudio, símbolo de luta pela castanheira
{iarelatednews articleid=”25061, 24979, 25022, 25060″}
Leia também

Para conter a inflação, é preciso olhar para a floresta
Manter nossas árvores em pé não é somente uma política ambiental, mas também um pilar estratégico para a segurança econômica do país →

Amazônia desponta como nova fronteira global do petróleo
Em cinco décadas, a exploração petrolífera no bioma desmatou florestas, contaminou águas, despejou gases na atmosfera, invadiu territórios indígenas e aprofundou desigualdades. Agora, uma nova onda exploratória ameaça repetir essa história →

Destruição de caverna em Minas Gerais alerta para falhas no licenciamento
Mineradora soterrou, sem autorização, uma caverna na comunidade Botafogo, no município de Ouro Preto, no final de março. Denúncia foi feita pela Sociedade Brasileira de Espeleologia →