Chegou nesta quarta-feira em Copenhague, o conselheiro para mudança climática do governo Barack Obama, Todd Stern. A expectativa e a pressão em torno da atuação dos Estados Unidos na 15a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP15) cresce a cada dia. A vinda de Obama pode representar a quebra do impasse nas negociações do novo acordo climático. Isso porque Stern promete que a administração está comprometida a colocar dinheiro no combate ao aquecimento global nos países pobres. A questão agora é saber o que define uma nação pobre.
Ainda não há detalhes de quanto dinheiro Obama vai trazer no bolso, mas o que preocupa as organizações não-governamentais desde o início da conferência na segunda é que os americanos tentem barganhar metas de emissões por apoio financeiro. “Há este rumor de que as delegações dos países em desenvolvimento poderiam aceitar a meta de 17% dos EUA em troca dos US$ 10 bilhões para o fundo de ação imediata”, comentou o ambientalista Carlos Ritll, que acompanha as negociações pela WWF-Brasil. Por enquanto, os EUA oferecem em Copenhague uma redução de 17% de suas emissões de gases de efeito estufa sobre os níveis de 2005.
O Grupo dos 77 + China, que reúne 130 nações emergentes e extremamente pobres, reagiu ontem a esta possibilidade. O embaixador sudanês Lumumba Di Aping, porta-voz do grupo, esbravejou ontem que US$ 10 bilhões era um dinheiro tão minguado “ que não dava para comprar os caixões” dos afetados pelas mudanças climáticas. Todd Stern, no entanto, garantiu que o presidente americano vai superar as expectativas e oferecer mais recursos ao acordo de Copenhague.
As cifras de quanto será preciso para financiar no longo prazo a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas variam hoje entre os US$ 100 bilhões e US$ 200 bilhões por ano. Até agora, não existe qualquer indicação positiva nas negociações de que esses recursos estarão garantidos. Apenas se fala no fundo de ação imediata, com valor de US$ 10 bi. Mas se Obama garantir financiamento de longo prazo, as negociações de Copenhague vão dar um passo concreto para um final feliz.
O destino do dinheiro
Mesmo que o dinheiro americano destrave as negociações, faltará decidir no entanto como e a quem esse dinheiro será distribuido. Ficou claro desde os primeiros dias da COP 15, que tanto Estados Unidos e União Européia estão determinados a mudar o status de grandes nações emergentes, principalmente, China, Índia e Brasil como meros receptores de ajuda financeira internacional.
O negociador-chefe da Comissão Européia, Artur Runge-Metzger, disse ontem que não”achava justo” que estes países, que recebem grande parte dos projetos de crédito de carbono (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) tenham ainda direito a recursos públicos dos países ricos. A prioridade dizem os europeus é dar dinheiro aos menos desenvolvidos e mais vulneráveis às mudanças do clima. “Perguntem aos países pobres o que eles acham de darmos dinheiro ao Brasil”, alfinetou o Runge-Metzger.
A União Européia fez este ano um cálculo sobre o custo das medidas de mitigação e adaptação, que seriam da ordem de 100 bilhões de euros por ano, e isso vai aumentar após 2020. Cerca de 60% dos recursos seriam obtidos através do mercado de carbono, 20% dos próprios países em desenvolvimento e os 20% restantes dos países industrializados.
“Não achamos que isso seja equitativo, então não estamos de acordo”, avisou o embaixador Luiz Figueiredo Machado, do Itamaraty. Em entrevista nesta semana, ele já havia avisado que “sem uma boa proposta de financiamento pelos países desenvolvidos vai ser muito difícil sair de Copenhague com um acordo”. (Veja vídeo ao lado)
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Mas a posição dos EUA não foi menos dura que a dos europeus. Muitos consideraram que Todd Stern “pegou pesado” com a China em sua primeira coletiva de imprensa em Copenhague. Ele disse que não achava provável que orçamento público americano algum dia possa ser usado para financiar ações na China. Em outras palavras, os americanos, assim como os europeus, estão mais uma vez cobrando que economias pujantes do mundo em desenvolvimento se engajem na redução de suas próprias emissões.
E nisso o próprio Stern não deixou dúvidas. Para ele “emissões são emissões , simplesmente matemática, e um acordo sem a China não vai adiantar”. Mais do que isso disse, que não adianta países assumirem metas domésticas, “divulgadas por comunicados de imprensa’. “Eles tem que vir a Convenção e assumir um compromisso internacional”, cobrou o negociador americano. (Gustavo Faleiros, Andreia Fanzeres, Cristiane Prizibisczki)
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